30.11.06

Mudar pro interior me fez diferente. Eu até já morei no interior, mas no interior dos Estados Unidos. Além de ser deserto e de ter muito mexicano, tem Mc Donald´s pra todo lado, o que tira a característica pura do nosso interior.
Viver aqui tem me feito bem. Eu, um cara urbano até o osso, menino de apartamento (que nunca morou em apartamento), tive que vir me encontrar com o que há de mais precioso e aflitivo em morar fora de casa. A solidão, a paradeira e o mato. Como tem mato. Mato pra todo lado, árvore, cerrado, cobra (dizem), lagartixas do tamanho de um dragão, bem nutridas pelos insetinhos, insetinhos estes bem menos irritantes que os da cidade.
Não é o mato que me faz alguém melhor, é a solidão. Solidão é uma palavra meio triste, não é essa a idéia. É o viver só de pensar na vida, avaliar os valores. É o viver só de saborear os momentos, saborear os meus momentos. É dormir cedo, já que não tenho mais nada pra fazer, ninguém pra conversar, sem internet pra ocupar o tempo em que deveria estar dormindo. Consequentemente não tem essa de dormir 4 horas numa noite, não existe fazer as coisas de última hora. Tem trabalho, e o trabalho definitivamente enobrece o homem.
Eu moro na cidade em que Guimarães Rosa iniciou a sua busca pelo grande Sertão, bem do ladinho das veredas que ele apregoou pro mundo inteiro. Escuto o povo falar mineirês mais mineiro que qualquer Minas Gerais do Universo. E, surpreendentemente, adoro cada coisinha. Talvez por estar tão perto de Guimarães, tenha me tornado um cara mais confuso, confuso no dizer, mais simples no viver. Minha cabeça voa à altura de urubuir, e quero escrever o tempo todo. Quero dar pitaco em tudo, quero fingir de escritor, quero brincar de inteligente. Acima de tudo eu quero ser eu mesmo, coisa que, às vezes, na cidade grande, sem entender direito por que, a gente não consegue.

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