30.11.06

Mudar pro interior me fez diferente. Eu até já morei no interior, mas no interior dos Estados Unidos. Além de ser deserto e de ter muito mexicano, tem Mc Donald´s pra todo lado, o que tira a característica pura do nosso interior.
Viver aqui tem me feito bem. Eu, um cara urbano até o osso, menino de apartamento (que nunca morou em apartamento), tive que vir me encontrar com o que há de mais precioso e aflitivo em morar fora de casa. A solidão, a paradeira e o mato. Como tem mato. Mato pra todo lado, árvore, cerrado, cobra (dizem), lagartixas do tamanho de um dragão, bem nutridas pelos insetinhos, insetinhos estes bem menos irritantes que os da cidade.
Não é o mato que me faz alguém melhor, é a solidão. Solidão é uma palavra meio triste, não é essa a idéia. É o viver só de pensar na vida, avaliar os valores. É o viver só de saborear os momentos, saborear os meus momentos. É dormir cedo, já que não tenho mais nada pra fazer, ninguém pra conversar, sem internet pra ocupar o tempo em que deveria estar dormindo. Consequentemente não tem essa de dormir 4 horas numa noite, não existe fazer as coisas de última hora. Tem trabalho, e o trabalho definitivamente enobrece o homem.
Eu moro na cidade em que Guimarães Rosa iniciou a sua busca pelo grande Sertão, bem do ladinho das veredas que ele apregoou pro mundo inteiro. Escuto o povo falar mineirês mais mineiro que qualquer Minas Gerais do Universo. E, surpreendentemente, adoro cada coisinha. Talvez por estar tão perto de Guimarães, tenha me tornado um cara mais confuso, confuso no dizer, mais simples no viver. Minha cabeça voa à altura de urubuir, e quero escrever o tempo todo. Quero dar pitaco em tudo, quero fingir de escritor, quero brincar de inteligente. Acima de tudo eu quero ser eu mesmo, coisa que, às vezes, na cidade grande, sem entender direito por que, a gente não consegue.

21.11.06

Mudando de Casa

Com um objetivo metade estético, 1/4 por estatísticas e 1/4 pra tentar movimentar o meu blog, mudo meus escritos de casa. A partir de agora venho para o Blogger que é, além de mais charmoso, dez vezes mais funcional que o Uol. No geral o blog continua a mesma coisa. Vou pitacar 70% das vezes sobre Política, 25% das vezes sobre futebol e 5% das vezes sobre outras coisas. Quem sabe eu decido de vez e transformo meu blog em um assunto só, mas isso é mais pra frente.
O trabalho para transferir todo o conteúdo foi Hercúleo, mas gostei do resultado. Como o blogger não tem um sistema de importação de notas de outros blogs, todas as notas estão publicadas com a data de hoje. Porém inclui, uma por uma, as datas originais no título. Infelizmente acabamos perdendo todo o conteúdo de comentários, mas isso a gente tira o atraso por aqui mesmo.
Boa diversão pra vocês e eu vou começar a postar com mais frequência. Participe, comente, não deixe de visitar.
Abraço e valeu pela fidelidade.

10/11/2006 - Futebol, paixão e o princípio do sofrimento

Dando um tempo nas matérias políticas, vai uma outra sobre futebol que tenho constume de escrever para o http://www.showdebola.com.br/

Futebol, paixão e o sentido do sofrimento


O futebol é uma paixão inexplicável. Eu, que sempre tentei ser ponderado em meus escritos aqui no Show de Bola, me deixo levar completamente pela paixão e faço um texto tendencioso, sem ondas e sem amarras. Eu sou atleticano, nasci assim, cresci vendo o Galo ganhar e adolesci vendo o Galo empatar, infelizmente adulteço vendo o Galo perder. Aliás, via o Galo perder.

O princípio do sofrimento

Sofrer pra mim não é nada demais, faz parte da minha história futebolística. Sou um ansioso comedor de unhas por natureza. Mas quando vi da arquibancada o empate entre o meu Galo com o Vasco, no ano passado, confesso que temi pelo pior. Apesar da reforma drástica feita no elenco por Lori Sandri, colocando em campo uma maioria absoluta de jogadores da base, dentre eles dois para quem eu fazia assessoria de imprensa, nem ganhando os quatro e empatando um dos cinco últimos jogos foi possível segurar o Galo na série A.
Com os olhos marejados vi a torcida cantar o hino, obstinada, sofrendo com o coração apertado e a alma ardendo, vendo o seu time querido ir parar na série B.
Pra você pode ser fácil leitor, talvez nunca tenha passado por isso. Mas o que esperar de um time formado por jovens jogando uma competição amarrada e truncada como a série B? Talvez vocês não tenham visto o Remo x Ituano em que foi registrada a magnífica marca de 80 passes errados e 81 faltas. Quais são as chances de um elenco com Danilinho, Marcinho, Marinnho, Luizinnho, vencer jogando contra o Náutico e os seus monstruosos zagueiros nos Aflitos? É muito inho num time só, certo? Errado.
Foi nesse quadro que passamos a acompanhar o Galo nas sextas, terças e sábados até a Copa, com o time encerrando a décima rodada mais próximo à zona de rebaixamento que da de classificação.
E, mais uma vez eu fitei a tragédia. Olhava o América Mineiro, glorioso em tempos remotos, equipe em que jogaram meu avô e bisavô, que fazia com o Atlético o clássico das multidões antes da era Mineirão, equipe que bateu com esfuziantes 17 x 0 o Palestra Itália, atual Cruzeiro, e via na história daquele time, agora na série C, sem forças para se reerguer, um lampejo do que poderíamos vir a ser um dia. Mas quiseram os deuses que o elenco de inhos, ao lado do turrão mas eficiente Levir Culpi chegassem à série A sem precisar do sofrimento com que conviveu o Grêmio na temporada de 2005.

Uma no depois, a redenção

Galo e São Raimundo fariam a partida que, caso combinada com um ou dois resultados, decretariam a volta efetiva ou quase efetiva do Galo à série A. Devido aos impasses da vida, estava em Três Marias, cidade do interior de Minas, no dia do jogo. Cheguei em BH às 20:15, com o jogo acontecendo às 20:30. Não é preciso de muita inteligência para saber que ao menos um quarto dos mais de 40 mil torcedores que iriam ao campo estariam presos no engarrafamento em volta do estádio. Sentei sozinho na Tribuna de Imprensa faltando 7 minutos para o fim do primeiro tempo e fiquei triste de não ter podido chegar mais cedo e estar no meu lugar de tradição, junto à torcida que é torcida de verdade.
E eu, que nunca fui pé quente, abri a porteira para os Gols de Galvão. Foram três dele e um de Marinho, fora a atuação impecável de Diego e Lima, os dois para quem faço assessoria de imprensa.
Quando o juiz apitou o final do segundo tempo os olhos marejaram de novo, como tinha acontecido quase um ano antes, contra o Vasco, mas dessa vez meu peito se estufava de alívio, estava acabado, o ano que vem seria de novo na série A. Sofrer é um estágio, e é só através do sofrimento que se concretizam fidelidade e paixão, e pude ver isso com os meus olhos cheios d´água em um Mineirão lotado numa noite de terça-feira.
Ao analisar hoje a emoção que sinto nesse tipo de situação, penso em como bobos nós, fanáticos por futebol, somos. Futebol é, definitivamente, a mais importante dentre as coisas menos importantes do mundo. Futebol não justifica violência, não justifica morte, não justifica corrupção. Na verdade acredito que nem valeria a pena existir futebol já que ele vem junto de todas essas variáveis. Mas existe, então aproveitemos.
Eu sinto, e pode me chamar de otimista, de irreal e estúpido, de fantasioso, de utópico, mas depois de adultecer vendo o galo perder, sinto que vou poder envelhecer vendo o Galo de novo campeão.

06/09/2006 - Leão, o Corinthians e os Deuses do mundo da bola/24 de Agosto de 2006

A minha mais remota recordação do técnico Leão (do técnico) é uma excelente passagem pelo Galo mineiro no meio da década de 90. Com um time mais ou menos, Leão puxou jogadores do júnior e montou um meio campo pegador formado por dois volantes que nunca mais jogaram nada em lugar nenhum, Edgar e Roberto. Roberto era daquele tipo carrapato, quem mandasse o garoto marcar, ele acompanhava até no vestiário. Leão trouxe também do júnior um habilidoso lateral esquerdo franzino mas talentoso e disse a ele: "garoto, você tem dez jogos pra me provar que pode jogar no time titular do Atlético, se até lá não jogar, você volta pro júnior". Existe uma versão que ele falou cinco jogos, outra que ele disse sete, mas acredito que ele teria sido um tanto quanto excêntrico caso tivesse feito essa última proposta. Um número torto assim não serve de referência pra nada. Esse lateral era Dedê, hoje jogador do Borussia Dortmund, já com 28 anos, até o começo do ano passado capitão do time. De lá pra cá confesso que deixei de acompanhar o Borussia e não sei como ele anda. No ataque um Marques renegado pelo Corinthians junto do Valdir Bigode. No gol um Cláudio André Taffarel já ídolo. Era pra ter sido um desastre. Não foi.
Não foi porque era um time aguerrido. E porque Leão era macho o suficiente para fazer as alterações necessárias. Dei essa volta toda para chegar ao Corinthians de hoje. Que o Leão faz bons trabalhos ninguém discute. Mas ninguém discute também que 50% das vezes ele gera tanto melindre no grupo que o trabalho vai por água abaixo.
Emerson Leão é o técnico do Corinthians e eu acho que vai dar certo. Primeiro porque ele fez a coisa mais óbvia que deveria ter sido feita há tempos, tirou a braçadeira de capitão de Carlitos Tevez. É tão óbvio assim por dois motivos. Primeiro pelo que Leão já alegou: como o cara pode ser o capitão de uma equipe sendo que ninguém, ninguém entende nada do que ele fala? Uns vão dizer que a linguagem do futebol é universal. Universal é a vaia, tirando isso o resto é balela. A outra razão é a atitude. Muita gente vai dizer que a atitude de Tevez em campo é exemplar, e é mesmo. Corre, chuta, dá combate. Mas isso não importa se ele só joga quando quer. Tevez é o Romário corinthiano. Ganha absurdos e alega motivos pessoais quando quer para não treinar, faltar jogo, e acaba sempre indo cantar cumbia na Argentina.
Eu não tenho nada contra argentinos. Inclusive tenho bons amigos de lá. Mas argentino marrento é a pior raça do mundo ao lado de pseudo-hippies sandalhudos (citação de Kabella). Por ser macho o suficiente para botar Tevez no lugar dele, por ser macho o suficiente para escolher o lado certo na briga Marcelinho x Mascherano, por ser macho o suficiente para deixar o goleiro Marcelo jogar, por ser macho o suficiente para dizer que pouco se importa com o que o Kia está pensando, por ser macho o suficiente para reintegrar ao grupo o Roger, Leão vai dar certo no Corinthians. Vai dar certo se os jogadores não tiverem ciúmes da pavonice dele e quiserem copiar. O elenco do Corinthians é mal equilibrado mas, mesmo assim, é um ótimo elenco.
Agora vem o ponto final e mais crítico de toda essa situação do Corinthians. Alegando problemas com Leão, Kia promete abandonar o comando da parceria e o futebol do Corinthians. Na prática muda muito pouco, já que ele não é nenhum gênio da cartolice mundial, só tem muito dinheiro. O crítico mesmo é que, pra mim, essa briguinha começa me cheirar a uma fuga programada da MSI. Talvez já tenham feito o que vieram fazer e, vendendo o Tevez, estejam satisfeitos. Continuariam com os direitos de vários jogadores do Corinthians. Mas ai é que a porca torce o rabo. A MSI não vai ficar pra sempre. A história de parcerias do Brasil diz isso. E no dia em que a MSI for embora o Corinthians está fulminado. Além da falta de dinheiro que antecedeu a parceria, o Corinthians tem um elenco inchadíssimo, caro, uma folha de pagamento astronômica e, não se enganem, a MSI não paga ninguém direito. Deve parcelas de compras de jogadores pra todo lado.
Que Leão seja feliz e queime muitos egos por ai. Eu prefiro um ego inflado de um homem de mais de 50 anos como o dele quando vem pra subjugar egos inflados de meninos de 21 anos que se julgam deuses do mundo.

06/09/2006 - Final da Libertadores 2006/16 de Agosto de 2006

Só há uma vantagem em ter duas equipes na final de um torneio importante em que seu time não esteja presente: é poder assistir a tudo de camarote e dar pitacos mais isentos que os da maioria. Hoje à noite jogam Internacional e São Paulo pela derradeira final da Libertadores. Seria só mais uma final bacana, se não fosse a atuação da imprensa paulista. Os caras decidiram que o São Paulo era a maior equipe do mundo e que tinha o departamento de futebol mais organizado que o do Manchester. Eu sou o primeiro a louvar a boa organização do time paulistano e de dizer que o time do São Paulo é sim diferenciado. Tem um bom e consistente elenco. Mas espera ai amigão, esse time do São Paulo está longe de ser a maior unanimidade do Brasil. É bom? É! Mas o time do Cruzeiro de 2003, por exemplo, era bem melhor. A equipe do Corinthians de 99 era muito melhor. O Palmeiras da Parmalat era trezentas vezes melhor. E o São Paulo do Telê, o primeiro principalmente, era anos luz melhor que esse. Até o time do Brasiliense do Péricles Chamusca me botava mais medo (ignore, exagero, é só modo de dizer).
Apesar de centroavantes (Aloísio e Ricardo Oliveira) de ótimo nível, o São Paulo desmonta completamente quando perde um dos seus ótimos volantes ou quando o Danilo joga mal. Mineiro e Josué são a alma do São Paulo, Danilo é a cadência, sem um dos três o São Paulo é um time comum. A zaga é boa, mas como o próprio Lugano gosta de falar ao se referir a jogar na Europa: “Jugar con tres és muy fácil, muy fácil... Nesta és bueno? Si, pero yo quiero ver Nesta jugar em la defesa de Palmeiras”. E que me desculpem, apesar de bater falta de maneira primorosa, Rogério Ceni está longe de ser a unanimidade que a imprensa paulista quer que ele seja. Rogério Ceni levou mais frangos no ano de 2006 que o Edinho levou na carreira inteira. Levou gol ao tentar dar toquinho por cima de atacante, soltou bola pro meio da área, não rebateu bola que veio em cima dele. Mas ai ele vai e mete um gol, dá uma entrevista bem articulada, fala três palavras difíceis e o Cleber Machado e o Galvão Bueno dizem que ele é Deus.
Mas voltando ao jogo, desconstruí o time do São Paulo para dizer que acredito que o Inter sai campeão hoje do Beira-Rio. Primeiro porque joga em casa, e tem muita força assim. Tem um centroavante tão bom quanto os do São Paulo (Fernandão) e um outro atacante que é acima da média, melhor que qualquer outro que o São Paulo tenha, que é o Rafael Sóbis. Tem um lateral esquerdo que apóia de maneira tão consistente quanto o Júnior (Jorge Wágner), um meio campo tão versátil quanto o do São Paulo, e o Tinga é muito mais regular que o Danilo. O Inter tem uma boa dupla de zaga, mas sua principal falha, na minha opinião, está no gol, no “de lua” Clemer. Capaz de salvar uma equipe durante um jogo, fazendo defesas espetaculares, Clemer às vezes se sai como um lambão e entrega o resultado para o adversário. Resta ao torcedor colorado torcer para ele estar em uma noite inspirada.
Não tiro a possibilidade do São Paulo se sagrar campeão de novo, mas confesso que ficarei levemente surpreso. Fica publicada minha opinião polêmica e que ela seja apedrejada caso se mostre furada, ou que fique como um alerta se acontecer o contrário. A crônica esportiva sabe menos de bola que o povo.

06/09/2006 - A Pós ressaca da Copa do Mundo09 de Agosto de 2006

Vamos tentar reativar esse blog mesmo com o pouco acesso à internet que tenho daqui. Vou repetir os meus textos que escrevi para o show de bola aqui. Como o nome mesmo diz, o show de bola é um site de futebol, então todos os textos têm essa temática. Depois escrevo alguma coisa pitacando amenidades quaisquer.



A ressaca vem. Ela sempre vem quando a gente exagera e passa do ponto. Nesse fatídico ano de 2006, passamos indubitavelmente do ponto. Exageramos na exaltação, julgamo-nos invencíveis, elegemos Adriano imperador, fizemos de Emerson um volante genial, transformamos o melhor do mundo, Ronaldinho Gaúcho, no melhor de todos os tempos, consideramos Juninho um salvador. Fizemos de dois laterais os baluartes da vitória para transformá-los, em seguida, nos maiores vilões da história. O resultado todos já sabem. Esquecemos que, do outro lado do campo, sempre tem outro time, seja o São Raimundo ou a seleção da Itália. E não importa a situação, quando as coisas estão com a maré virada, quem quer que esteja do lado de lá pode vencer. No nosso caso não era qualquer timeco, era a França. Mas isso é história velha, vamos voltar à bebedeira.
A ressaca veio, um gosto amargo na boca. Uma daquelas derrotas difíceis de engolir. E aí eu me lembro do pessoal do Monty Python que, numa cena clássica do filme Em Busca do Cálice Sagrado (aquele em que o rei Arthur cavalga sem cavalos batendo dois coquinhos com toda a sua comitiva), queria queimar uma bruxa de qualquer jeito. Era uma mulher com um nariz falso de cenoura e um chapéu meio torto. Um sábio, ao perguntar para o povo porque eles queriam queimar a mulher, recebeu a resposta de que ela era uma bruxa, então deveria ser queimada. Então ele levanta a questão, "mas como vocês sabem que ela é uma bruxa?" E a turba insana responde: "porque ela parece com uma". A mulher protesta e diz que lhe colocaram o chapéu e o nariz. Tirando os dois ela se parece com uma mulher normal, mas a aldeia insiste em queimá-la.
Essa alegoria serve para o futebol porque mostra como nós, a turba insana, agimos quando somos frustrados. Agimos como crianças que têm o brinquedo tomado. Queremos queimar nossas bruxas, queimamos Parreira, queimamos Roberto Carlos, queimamos Cafu, e só não queimamos o Ronaldinho Gaúcho porque sabemos que bastam duas semanas no Barcelona pra ele mandar todo mundo calar a boca. É a tradição do futebol brasileiro.
Só espero que essa derrota não nos torne amargos, porque não foi por jogar com um time com quatro jogadores de estilo ofensivo que o Brasil perdeu. Perdemos porque dos quatro, dois tentavam ocupar o mesmo lugar e os outros dois precisavam de jogar marcando no meio campo. Ronaldinho Gaúcho não jogou nada porque passou a maior parte dos jogos atuando atrás do Kaká, como homem mais recuado dos quatro. E isso o Galvão Bueno não falou, porque não sabe nada de futebol, é pitaqueiro. O pitaqueiro mais bem pago do Brasil mas, ainda assim, um pitaqueiro. Perdemos porque tínhamos que perder para o bem do futebol mundial. A nossa soberania suprema só beneficia a nós mesmos. Agora tudo vai ter mais graça. Perdemos porque tinha que ser assim.
Só a título de curiosidade, a cena do Em Busca do Cálice Sagrado termina assim: a mulher, que sem o disfarce não tem nada de bruxa, é tomada como bruxa após uma argumentação bastante "científica" aplicada pelo sábio e acaba indo para a fogueira.

10/07/2006 - Uma copa irritante

Uma copa irritante
Irritante não só pela eliminação do Brasil, não só pela chatice dos jogos da fase final (tirando o segundo tempo da prorrogação de Itália e Alemanha) mas, essencialmente, uma copa irritante pela cobertura jornalística. Zidane é um gênio, eu concordo, mas fizeram dele, além de um gênio, um gentleman e mais, muito mais. Com a cabeçada em Materazzi no finalzinho do jogo Zidane prova quem sempre foi. Um craque instável e desleal. Esse tipo de expulsão sempre foi característica do Zidane, principalmente nos tempos de Juventus. Mas não valia a pena falar. O mundo precisava de um craque pra copa do mundo, que não teve a atuação de craque nenhum. Craque mesmo foram Cannavaro e Pirlo. Só que não vale a pena falar. Zidane jogou um jogo nessa copa. Só contra o Brasil, nos demais se escondeu e jogou burocraticamente como nos últimos dois anos de Real Madrid. E disseram que ele fez uma copa irretocável. Fez 3 gols, é verdade, dois de penalti.
Fica a minnha revolta de eleger um cara como ele o grande nome da copa. Não foi. Ele foi mais um. No jogo contra o Brasil ele foi demais. Mas só. O Cannavaro fez a competição mais irreticável que já vi um zagueiro fazer. Mas como eleger um zagueiro o melhor da copa? Era dar ao mundo a declaração de como estamos carentes de um gênio que compre pra si a responsabilidade e arrebente sozinho com seus adversários. Mas eu não vou entrar na onda do Galvão Bueno. Melhor da copa tem que ser em todos os sentidos. No futebol e no comportamento. Afinal da contas o esporte nasceu para servir de substituição à violência, e não sua propagação. Vão aqui os meus votos contra o Zidane.
Minha lista de melhores do mundial
1 - Cannavaro
2 - Pirlo
3 - Makelele
4 - Materazzi
5 - Buffon / Lehmann
6 - Friedrich
7 - Maniche
8 - Vieira
9 - Ribery
10 - Figo
Definitivamente uma copa de zagueiros e volantes, mas isso o Galvão Bueno não fala. A propósito, pra mim o Ronaldo foi muito melhor que o Klose na copa, assim como o Zé Roberto foi muito mais útil que o Cristiano Robnaldo. O Podolski pra mim é muito pior que o Van Persie. E pra terminar de maneira bem polêmica, o Fábio Costa tá mais gordo que o Ronaldo.

03/07/2006 - O Ferrolho

Numa copa em que, apesar do meu sucesso em alguns bolões por ai, errei alguns prognósticos importantíssimos, decidi dar o meu derradeiro pitaco, para abalar as estruturas e ser chamado de ranzinza e retrógrado depois da copa. De França e Alemanha, pra mim, sobram Itália e Portugal.
Prevejo (e isso porque quero intensamente) uma final de copa Itália e Portugal.
Portugal porque a França, apesar de ter crescido contra o Brasil, só cresceu porque era contra o Brasil. A história de freguesia de Portugal com a França é longa, só Felipão pra quebrar isso. Nos últimos 7 jogos foram 7 derrotas. E da-lhe Deco nas costas deles. É a chance do nosso sangue brazuca se vingar, a última, diga-se de passagem.
Mas a minha previsão de Itália na final é simples. Se fala muito do time da casa, que é copeiro e tudo, falam muito de Portugal e sua gana de vencer, falam muito de Zidane e seu estilo, mas de todos os times que sobraram a Itália é a que tem o time mais consistente. Um goleiro fantástico - Buffon - uma zaga espetacular (apesar de estar ficando velha) que conta com Canavaro e Nesta , um meio campo de primeira linha com volantes do gabarito de Pirlo, Camoranese e Gattuso, é só escolher. Um meia como Totti e atacantes como Del Piero, Inzaghi, o ótimo Gilardino e o eficientíssimo (muito mais que o alemão Klose) Luca Toni. Além da volta de De Rossi na final, caso passe.
Meus amigos, aceitem, é o fim do joga bonito, é hora de apostar no “ferrolho”.

03/07/2006 - Derrota dolorosa

Antes fosse só mais uma derrota, que fossem dois gols do Zidane, mas perder com um gol do Henry é doloroso. Tive minha língua queimada, meu time desclassificado e meus sonhos hexacampeões desfeitos. Malditos... E a culpa é 50% do Roberto Carlos, 25% do Parreira e 25% do Cafu que fez a falta.
Pra mim essa derrota valeu pra umas duas coisas. Primeiro aliviou o meu trabalho de comunicação interna aqui na Votorantim em Três Marias porque nós éramos responsáveis por tudo referente a copa, de televisões nas áreas para os operadores assistirem até ornamentação da fábrica. Me aliviou essa derrota. Em segundo lugar porque aposentamos de vez o Cafu que me dava nos nervos. Depois ensinamos para uma geração inteira que existe uma coisa chamada derrota, e ela ocorre com frequência (nossa geração viu dois títulos mundiais e um vice campeonato, nós entramos na copa imaginando contra quem seria a final). Outro ponto é que arrancamos do Parreira a pecha de bom treinador. Ele é retranqueiro e cabeça dura, ponto final. Por último e não menos importante, ficou provado para toda a mídia brasileira que ela não sabe nada de futebol. Parreira fez todas as alterações pedidas, todas, e só no segundo tempo do jogo contra a França Galvão Bueno decidiu pedir que se trocassem os laterais. A imprensa mala se queimou, ponto pra nós.
Um outro detalhe, nada futebolístico, foi o fim do perigo de o futeol inebriar a mente do eleitor brasileiro, não nos esqueçamos, temos mais um puto de um presidente para eleger.
O saldo final é o gosto amargo da derrota, um time de gênios acabado, uma mídia desmoralizada e um perigoso tabu criado contra os franceses. Deus me livre de voltar a enfrenta-los, Brasil e França é quase um Galo e Ponte Preta.
Ps. Vale colocar aqui a frase do Lima, zagueiro do Galo que assistiu o jogo com a gente: "Deveriam dar um terno pra esse Zidane jogar bola, que classe!". Lima tem razão, que classe, quanto estilo, que jogador. Um dos maiores que vi jogar. ele merecia terminar a carrreira assim, e não na bosta como estava no Real Madrid, o filho da puta não jogava bola direito ha um ano...

30/06/2006 - Henry, um merda

Ontem o Henry, atacante da França deu uma declaração que me deixou com raiva. Ele disse que os brasileiros se destacam tanto no futebol porque ele, quando criança, estudava de 7h às 17h, segundo Henry, no Brasil, as crianças jogam bola de 8h às 18h. Mais que preconceituosa, a frase é um afronte. Um afronte porque é uma quase verdade, e quase verdades são dolorosas. É um afronte porque quase verdades não devem ser ditas por estrangeiros. Falem mal, mas falem de si mesmos. A quase verdade está em que realmente nossas crianças vão à escola menos do que deveriam. Pela distância das escolas até as suas casas ou por pura negligência dos pais (quando em cidades grandes, que têm vagas suficientes). Essa é uma realidade dura, triste, mas não tem absolutamente nada a ver com futebol. Henry tem a mesma imagem preconceituosa dos norte-hemisferistas-americanos (decidi adotar essa nomenclatura, discutimos o conceito depois) do Brasil, ou vivemos em árvores ou em periferias com campinhos de terra praticando futebol enquanto as mulatas sambam no meio de uma roda carregando uma bandeira.
Eu não me irrito usualmente com esse tipo de achaque. Tenho pena da ignorância alheia. Até porque, piada por piada, enquanto nossos jovens jogam bola o dia inteiro, os franceses, ao invés de irem à aula, queimam carros em Paris. A minha birra é com o Henry. É um safado, metido, estrela, imagem perfeita do que eu desprezo no futebol. Apesar de ser ótimo jogador, tudo o que ele ganhou na carreira foi nas costas de outrém. Nunca marcou um gol decisivo, sempre marcaram por ele. Zidane, Trezeguet, Vieira. E, maldição, a obrigação é dele que se acha tão gênio. Pois bem, que tenha a resposta em campo no sábado, que passe mais uma decisão sem marcar e que saia humilhado... E que Deus esteja me ouvindo, porque os deuses da bola já me abandonaram.

22/12/2005 - O cocô

Galera, eu formando agora resolvi desenterrar uma crônica minha dos velhos tempos que representam muito bem meu tempo de PUC, já que ela foi produzida para o TOSCO, o nosso jornal subversivo da universidade. Fiz pequenas alterações que condizem mais com o que eu acredito atualmente.

O cocô

Poucas coisas na história são mais antigas que o cocô. Adão, antes de pedir ao criador uma companhia por estar sozinho, provavelmente também evacuou. E você leitor, acredita mesmo que aquele pedaço de maçã pecaminosa foi digerido e pronto? Até Jesus, e não tome isso por blasfêmia porque eu sou cristão, dividiu o corpo em forma de pão e, eu garanto, era figurativo, porque se Pedro não cagou aquele pedaço de pão eu abandono o jornalismo! É necessário, portanto, que todos concordemos que o mundo é formado por fauna, flora e cocô, é claro.
Defecar é uma arte que depende de forma direta da alimentação que precede o próprio ato. Uma boa macarronada acompanhada de uma salada leve é ideal. Um para dar volume, o outro consistência. A produção artística propriamente dita começa no momento em que o autor acomoda-se à latrina. De cócoras ou não, é de suma importância encontrar o ponto ideal de esforço, fazer pressão em demasia pode afetar a forma do bolo fecal. Em alguns segundos, ou minutos, dependendo até horas, a obra está pronta, inerte na água (ou na terra) pronta para ser fotografada, pintada ou esculpida (esta última não é muito indicada pela sujeira que pode vir a causar). É importante realçar que animais irracionais não têm consciência do ato de evacuar, portanto não fazem arte, abortam excrementos. Não se engane leitor ao pensar que homens e mulheres são diferentes ao sentarem-se na privada. É exatamente esse o momento em que se igualam e nossas semelhanças ficam comprovadas. Nossos aparelhos genitais podem ser diferentes, assim como nossos hormônios, mas na sentina somos todos humanos.
Você provavelmente está se perguntando porque perco o meu tempo escrevendo isso. Estou buscando meu lugar ao sol. Na era em que Claudinho e Bochecha são músicos, Carla Peres é dançarina, Leonardo DiCaprio é ator e um palhaço chamado Ronald é mais conhecido que um escritor chamado Franz, tentei a ironia. Estou fazendo arte.

Ps: Resolvi deixar o final como era, eu sei que o Claudinho morreu e, longe de mim querer maldizer o defunto, mas pra manter o nexo decidi deixar como era. E já nem acho o Di Caprio o pior ator do mundo, mas ai me lembrei que tinha colocado ele porque fazia tipo dez minutos que tinha assistido A Ilha, em que o rapaz é o ator principal, e decidi que ele continua merecendo o torra.