3.7.07

Uma reflexão sobre o ensino no Brasil

Apesar de já ter discutido isso com muita gente, pretendo trazer o assunto educação à baila aqui nos escritos do Pitacos e Relatos. Não é surpresa ou novidade pra ninguém que o Brasil não só investe pouco como investe mal em educação. E, grande parte deste problema, reside na má distribuição de recursos entre ensino básico e ensino superior.

É fácil avaliar a distorção. Um aluno do ensino público superior custa, no Brasil, cerca de 14 vezes mais caro que um aluno do ensino básico. O número já é forte o suficiente pra gente parar o texto por aqui, mas vamos lá.

Recentemente alunos da USP, descontentes com uma série de medidas do governador de São Paulo José Serra, resolveram tomar de assalto a reitoria da Universidade. Na pauta de reivindicações estava, entre melhoria de moradia estudantil, redução de preço de bandejão e autonomia para a Universidade, o aumento do número de professores por cursos. De acordo com o Ministério da Educação, a USP tem um professor para cada 15,4 alunos. Parece piada? Vai ficar pior quando eu disser que Sorbonne, na França, tem 32 professores para cada aluno.

O problema do ensino superior do Brasil não está puramente na falta de recursos, mas na péssima aplicação deles. É um problema de gestão, como grande parte das mazelas do setor público deste país. Os R$ 72 bilhões aplicados por ano em educação não são suficientes. Avalia-se que seriam necessários R$ 93 bilhões. Se pensarmos que 41% da verba aplicada em educação vai para o ensino superior, já é suficiente para pedirmos uma pausa geral para reflexões necessárias.
Na faculdade de medicina da UFMG, daqui de BH, estão sete ex-colegas meus na mesma turma. Todos fomos colegas em uma escola considerada de elite. Eu queria, de coração, saber quantos alunos de ensino público estão naquela sala. Eu sei que tem dois. Daqueles gênios que furam a dura realidade para vencerem na vida. De resto, gente de classe média, classe média alta e rica, ou muito rica. Ai eu me pergunto, ensino público gratuito porque? Se os que precisam de verdade da isenção não chegarão nem perto da aprovação?

Pois lanço a minha campanha. O governo federal dá a chance aos reitores de universidades públicas se transformarem em gestores e melhorar o perfil das escolas. Reduzam prejuízos, tornem-se independentes financeiramente (como a UNB que construiu um hotel que é responsável por quase igualar os gastos com pessoal), procurem ex-alunos que possam fazer doações, e em cinco anos me apresentem resultados. Aquelas que não conseguirem serão privatizadas e passarão a ser geridas pela iniciativa privada. Com capital misto para que mantenham preços abaixo do mercado. Pronto, está feito. É justo, justíssimo. Digo isso porque eu pago a mensalidade daqueles meus colegas mais ricos ao pagar os impostos abusivos que me cobram todo mês. Como acionista da UFMG eu cobro resultados. Resultados ou não quero mais pagar essa joça.

A Coréia fez, na década de 60, exatamente o que já deveríamos ter feito. Mudou o foco de investimento do ensino superior para o básico e manteve, com pulso firme, a política por décadas. Isso não é daquelas mágicas que se vê o resultado na hora. Serão precisos 30, 40 anos para que resultados comecem a ser enxergados, mas daí pra frente é só administrar os detalhes. O Brasil investe, proporcionalmente, em ensino público básico, menos que a Colômbia. E investe em ensino superior, também proporcionalmente, mais que a Espanha.

É hora de percebermos todos que os nossos interesses não podem estar à frente, mas juntos aos dos outros. É isso ou amargar violência, doença, fome e pobreza para sempre. Vamos botar a mão na consciência, alunos de federais, é o nosso país, não o seu curso superior que está em jogo.