23.7.09

Minha profissão: O intangível

Tenho 26 anos e já rodei um bocado no tal do mercado de trabalho. Passei por diversas empresas trabalhando com a intangibilidade. Esse treco complicado, que pouca gente sabe explicar o que é. Aquilo que não se vê, que não se toca, mas que sabemos ser importante e determinante na relação das pessoas.

Hoje, morando sozinho no interior, me dei ao luxo de pensar, por um tempo, enquanto arrumava minha casa, aonde começou a minha história com o intangível.
Não foi muito difícil chegar lá. Estudei no Colégio Loyola, formação jesuíta, cheia de valores, deveres e um bocado de intangibilidade.

Na escola, o intangível começava pelas minhas aulas de Química e Matemática. Coisa distante aquelas aulas. Não pelos professores, neles a minha relação era muito próxima e sadia, mas as disciplinas... Acho engraçado chamarem as matérias que estudamos de disciplinas. Acho muito adequado. Deve ser porque só aprende direito quem tem disciplina. Eu não tinha.

Eu gostava de aprender o que estava por trás de cada história. Quando um professor de física explicava alguma coisa, não queria aprender o que ele escrevia no quadro, queria saber quem era aquele professor, quais eram suas agonias, suas tristezas, seus anseios, suas realizações, alegrias. Esse desejo de me relacionar me levou a viver as atividades espirituais que a escola oferecia. Isso ajudou a formar o meu caráter, meu jeito de enxergar as coisas e...
voilà, escolher minha profissão: gestor do intangível.

Hoje é fácil dizer que acertei na mosca. Minha carreira se desenvolveu, tenho ido relativamente bem, e isso me enche de orgulho. Mas ainda não sei direito explicar o que eu faço. Sou pago para gerir o que as empresas sabem que existe, mas não têm certeza de como tratar. Afinal, opiniões, posições, discussões, podem ser postas numa planilha, mas isso, inevitavelmente, terá pouca efetividade.

As empresas me contratam porque o intangível não se aprende na faculdade. Esse tipo de coisa se estabelece a partir da sua relação com as pessoas e com o mundo. Desenvolvem-se métodos, métricas, fórmulas e DISCIPLINAS sobre o assunto. Mas o intangível é maior. Ele não cabe num pote, nem numa sala de aula, ele extrapola. Ele vai além.

Essa forma de enxergar o mundo me permitiu uma profissão e uma relação muito especial com Deus.

Você, caro leitor, deve achar que escrevi tudo isso para chegar ao final dizendo que a relação com Deus é intangível, um clichê sem tamanho. Mas se enganou. Intangível é a fé. É o que nos move a nos relacionar com Deus. A relação, em si, esta é tangibilíssima. Ela está aqui, no meu coração, eu a toco todos os dias, todas as horas, minutos e segundos. Vejo o amor de Deus em todas as coisas. Isso pode ser tocado, mas não pode ser medido.

E estou eu de volta ao princípio.

Te disse que intangibilidade era um treco complicado!