19.12.06

Ronaldinho Gaúcho e a Ditadura da Mídia

Fabio Cannavaro, zagueiro do Real Madrid e capitão da seleção italiana de futebol é o melhor do mundo em 2006. Eleito pela FIFA, o defensor acumula os dois principais prêmios internacionais do futebol, esse e o da revista France Football, que sabe-se lá porque é tão respeitado.
Foram 498 pontos contra 454 de Zinedine Zidane e 380 de Ronaldinho Gaúcho. Eu fui o primeiro a pedir Cannavaro como o melhor da copa. Acho que ele foi soberbo, espetacular. Mas daí a ser eleito o melhor do mundo do ano vai-se um caminho enorme. É fácil desfazer, com dados, as opções da FIFA.
Cannavaro teve um bom primeiro semestre, a Juventus teve uma média baixa de gols sofridos. Mas ficou comprovado que não foi só competência de sua defesa. Envolvida em maracutaias que fariam Edílson Pereira de Carvalho corar, a Velha Senhora (como carinhosamente é chamada a Juventus) foi rebaixada para a segunda divisão do campeonato italiano. Fica claro que não foi só a competência de Cannavaro e Buffon que impediram os adversários de fazerem gols. O Segundo semestre de Cannavaro começou muito bem. Foi um mês raro, daqueles para se lembrar. Uma copa impecável. E aí veio o Real Madrid e atuações apagadas. Considero um ano um tanto irregular para se fazer de Cannavaro o melhor do mundo.
Quanto a Zidane parece piada ele terminar em segundo. Aliás, parece piada ele concorrer. Depois de um primeiro semestre sofrível em que o Real Madrid colecionou insucessos levando o veterano Zidane à reserva antes do meio de temporada, veio a Copa do Mundo. Zidane fez dois belos jogos, contra Espanha e Brasil, e deitou no berço esplêndido da fama para ser eleito o melhor da Copa. Ainda encerrou sua história no futebol com uma cabeçada no zagueiro italiano Materazzi. Expulso de campo declarou terminados seus dias no futebol. E não jogou mais no segundo semestre.
Fazer dessas duas figuras os dois melhores do ano é piada de péssimo gosto. Cannavaro ainda vá lá, façamos vistas grossas à interferência da arbitragem e dos próprios jogadores em campo, mas Zidane?
Tal decisão, em verdade, teria levantado pouca discussão se não tivesse ficado em terceiro lugar o gênio Ronaldinho Gaúcho. Com um ano quase impecável, só pôde ter sua jornada contestada no mês da Copa do Mundo. No resto do ano foi indiscutível. Foi campeão espanhol carregando o Barça nas costas, campeão da Copa dos Campeões sendo o principal jogador de sua equipe, voltou para o segundo semestre depois da copa com a mídia olhando de nariz torto para o seu talento e voltou a calar a todos com atuações fora do comum.
Tradicionalmente a mídia decide esse tipo de escolha. A pressão da imprensa internacional é forte em demasia. Foi assim com Zidane que foi endeusado depois do jogo espetacular que fez contra o Brasil na Copa. Ele é um dos marcos da história do futebol recente, eu concordo, mas teve um ano pífio, se analisado por inteiro. Quanto a Cannavaro, bastou ter a Itália campeã com um autêntico ferrolho, sem grandes estrelas aparentes do meio para a frente (Totti se machucou), para procurarem na defesa uma alternativa e tentar fazer justiça a todos os grandes defensores deixados de lado na história dos prêmios mundiais.
É uma pena, Ronaldinho foi o melhor do ano. Ao lado dele eu elegeria Kaká e Pirlo, talvez tendesse a escolher Makelele, sempre esquecido nos meios de campo em que atua. Cannavaro ficaria entre os dez melhores, Zidane não entraria no top 30.
Patético o papel pouco analítico da mídia futebolística mundial. Vendo decisões como esta, me convenço que a tendência persegue o meio. Se em Belo Horizonte vemos absurdos como Fábio sendo eleito melhor goleiro do ano em Minas, no nacional vemos Rogério Ceni sendo eleito o melhor jogador do campeonato e Wagner o melhor meia, é natural que Zidane seja o segundo melhor do ano. Quem não sabe nada de futebol sou eu.

Alexandre Abramo, jornalista radicado em Três Marias, assessor de imprensa de jogador de futebol acredita que um mundo que tem Ronaldinho Gaúcho não precisa de Cannavaro.