21.11.06

10/11/2006 - Futebol, paixão e o princípio do sofrimento

Dando um tempo nas matérias políticas, vai uma outra sobre futebol que tenho constume de escrever para o http://www.showdebola.com.br/

Futebol, paixão e o sentido do sofrimento


O futebol é uma paixão inexplicável. Eu, que sempre tentei ser ponderado em meus escritos aqui no Show de Bola, me deixo levar completamente pela paixão e faço um texto tendencioso, sem ondas e sem amarras. Eu sou atleticano, nasci assim, cresci vendo o Galo ganhar e adolesci vendo o Galo empatar, infelizmente adulteço vendo o Galo perder. Aliás, via o Galo perder.

O princípio do sofrimento

Sofrer pra mim não é nada demais, faz parte da minha história futebolística. Sou um ansioso comedor de unhas por natureza. Mas quando vi da arquibancada o empate entre o meu Galo com o Vasco, no ano passado, confesso que temi pelo pior. Apesar da reforma drástica feita no elenco por Lori Sandri, colocando em campo uma maioria absoluta de jogadores da base, dentre eles dois para quem eu fazia assessoria de imprensa, nem ganhando os quatro e empatando um dos cinco últimos jogos foi possível segurar o Galo na série A.
Com os olhos marejados vi a torcida cantar o hino, obstinada, sofrendo com o coração apertado e a alma ardendo, vendo o seu time querido ir parar na série B.
Pra você pode ser fácil leitor, talvez nunca tenha passado por isso. Mas o que esperar de um time formado por jovens jogando uma competição amarrada e truncada como a série B? Talvez vocês não tenham visto o Remo x Ituano em que foi registrada a magnífica marca de 80 passes errados e 81 faltas. Quais são as chances de um elenco com Danilinho, Marcinho, Marinnho, Luizinnho, vencer jogando contra o Náutico e os seus monstruosos zagueiros nos Aflitos? É muito inho num time só, certo? Errado.
Foi nesse quadro que passamos a acompanhar o Galo nas sextas, terças e sábados até a Copa, com o time encerrando a décima rodada mais próximo à zona de rebaixamento que da de classificação.
E, mais uma vez eu fitei a tragédia. Olhava o América Mineiro, glorioso em tempos remotos, equipe em que jogaram meu avô e bisavô, que fazia com o Atlético o clássico das multidões antes da era Mineirão, equipe que bateu com esfuziantes 17 x 0 o Palestra Itália, atual Cruzeiro, e via na história daquele time, agora na série C, sem forças para se reerguer, um lampejo do que poderíamos vir a ser um dia. Mas quiseram os deuses que o elenco de inhos, ao lado do turrão mas eficiente Levir Culpi chegassem à série A sem precisar do sofrimento com que conviveu o Grêmio na temporada de 2005.

Uma no depois, a redenção

Galo e São Raimundo fariam a partida que, caso combinada com um ou dois resultados, decretariam a volta efetiva ou quase efetiva do Galo à série A. Devido aos impasses da vida, estava em Três Marias, cidade do interior de Minas, no dia do jogo. Cheguei em BH às 20:15, com o jogo acontecendo às 20:30. Não é preciso de muita inteligência para saber que ao menos um quarto dos mais de 40 mil torcedores que iriam ao campo estariam presos no engarrafamento em volta do estádio. Sentei sozinho na Tribuna de Imprensa faltando 7 minutos para o fim do primeiro tempo e fiquei triste de não ter podido chegar mais cedo e estar no meu lugar de tradição, junto à torcida que é torcida de verdade.
E eu, que nunca fui pé quente, abri a porteira para os Gols de Galvão. Foram três dele e um de Marinho, fora a atuação impecável de Diego e Lima, os dois para quem faço assessoria de imprensa.
Quando o juiz apitou o final do segundo tempo os olhos marejaram de novo, como tinha acontecido quase um ano antes, contra o Vasco, mas dessa vez meu peito se estufava de alívio, estava acabado, o ano que vem seria de novo na série A. Sofrer é um estágio, e é só através do sofrimento que se concretizam fidelidade e paixão, e pude ver isso com os meus olhos cheios d´água em um Mineirão lotado numa noite de terça-feira.
Ao analisar hoje a emoção que sinto nesse tipo de situação, penso em como bobos nós, fanáticos por futebol, somos. Futebol é, definitivamente, a mais importante dentre as coisas menos importantes do mundo. Futebol não justifica violência, não justifica morte, não justifica corrupção. Na verdade acredito que nem valeria a pena existir futebol já que ele vem junto de todas essas variáveis. Mas existe, então aproveitemos.
Eu sinto, e pode me chamar de otimista, de irreal e estúpido, de fantasioso, de utópico, mas depois de adultecer vendo o galo perder, sinto que vou poder envelhecer vendo o Galo de novo campeão.

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