25.7.13

O ateu que encontrou Deus

Não acreditava em Deus. Coisa de bobo, necessidade de dar sentido em toda e qualquer situação da vida. 

Se alguém morre, “é que Deus quis”, se alguém cura “foi Deus que fez”. E assim era, e assim viveu, até uma noite de julho. O céu nublado trazia um tom estranho para o inverno de Belo Horizonte. Nas ruas, um movimento todo em preto e branco, listrado na vertical.

O dia que não passa, a hora que não chega. O trabalho que não rende, o patrão que não entende.

No caminho da arena, carro e van, ônibus e gente a pé, numa mistura estranha e improvável de tranquilidade e leveza com engarrafamento.

O barulho da arquibancada, o soar do tambor, o grito da garganta, rasgando a alma e transformando o peito em caixa amplificada.

Passa um tempo e nada. O nosso ateu, coitado, nem à oração pode recorrer. Recorre então a São Cuca e torce pra que troque certo, pra que a luz da razão e sabedoria de Ronaldinho transforme suor em gol.

GOL. Lágrima no olho, choro contido que deságua, peito sofrido que aceita e acredita,... Ele acredita. Eu acredito, eles todos acreditavam.

Mas ai um grandalhão com jeito de gladiador arranca na corrida, dribla o duas vezes salvador, e, com o gol aberto, cai no gramado com um escorregão.

No campo o suspiro de alívio, no coração do ateu: dúvida.
Afinal, não é possível. Ou é? Faz sentido. Ou não?

GOL. Lágrimas nos olhos, choro incessante, peito aliviado de quem acredita nos pés dos homens, mas não nas mãos de Deus.

Não?

Mas um gol tão no final. Isso lá é coisa de gente?

Foi quando veio tudo na cabeça, os pênaltis não marcados, o pé esquerdo do goleiro no último minuto, no último pênalti da vida, o placar improvável que é revertido, duas vezes, os pênaltis que viram vitória, o escorregão magistral do gol que não foi.


E aquilo virou luz. O choro de vitória foi também choro de revelação. Ele existe. Deus existe. Estava em cada bola, em cada gol, em cada defesa, em cada revés. Deus existe, ele entendeu, e atleticanamente orquestrou a história para que esse fosse o mais épico, mais incrível e improvável acerto de contas que o mundo do futebol já viu.