21.11.06

06/09/2006 - A Pós ressaca da Copa do Mundo09 de Agosto de 2006

Vamos tentar reativar esse blog mesmo com o pouco acesso à internet que tenho daqui. Vou repetir os meus textos que escrevi para o show de bola aqui. Como o nome mesmo diz, o show de bola é um site de futebol, então todos os textos têm essa temática. Depois escrevo alguma coisa pitacando amenidades quaisquer.



A ressaca vem. Ela sempre vem quando a gente exagera e passa do ponto. Nesse fatídico ano de 2006, passamos indubitavelmente do ponto. Exageramos na exaltação, julgamo-nos invencíveis, elegemos Adriano imperador, fizemos de Emerson um volante genial, transformamos o melhor do mundo, Ronaldinho Gaúcho, no melhor de todos os tempos, consideramos Juninho um salvador. Fizemos de dois laterais os baluartes da vitória para transformá-los, em seguida, nos maiores vilões da história. O resultado todos já sabem. Esquecemos que, do outro lado do campo, sempre tem outro time, seja o São Raimundo ou a seleção da Itália. E não importa a situação, quando as coisas estão com a maré virada, quem quer que esteja do lado de lá pode vencer. No nosso caso não era qualquer timeco, era a França. Mas isso é história velha, vamos voltar à bebedeira.
A ressaca veio, um gosto amargo na boca. Uma daquelas derrotas difíceis de engolir. E aí eu me lembro do pessoal do Monty Python que, numa cena clássica do filme Em Busca do Cálice Sagrado (aquele em que o rei Arthur cavalga sem cavalos batendo dois coquinhos com toda a sua comitiva), queria queimar uma bruxa de qualquer jeito. Era uma mulher com um nariz falso de cenoura e um chapéu meio torto. Um sábio, ao perguntar para o povo porque eles queriam queimar a mulher, recebeu a resposta de que ela era uma bruxa, então deveria ser queimada. Então ele levanta a questão, "mas como vocês sabem que ela é uma bruxa?" E a turba insana responde: "porque ela parece com uma". A mulher protesta e diz que lhe colocaram o chapéu e o nariz. Tirando os dois ela se parece com uma mulher normal, mas a aldeia insiste em queimá-la.
Essa alegoria serve para o futebol porque mostra como nós, a turba insana, agimos quando somos frustrados. Agimos como crianças que têm o brinquedo tomado. Queremos queimar nossas bruxas, queimamos Parreira, queimamos Roberto Carlos, queimamos Cafu, e só não queimamos o Ronaldinho Gaúcho porque sabemos que bastam duas semanas no Barcelona pra ele mandar todo mundo calar a boca. É a tradição do futebol brasileiro.
Só espero que essa derrota não nos torne amargos, porque não foi por jogar com um time com quatro jogadores de estilo ofensivo que o Brasil perdeu. Perdemos porque dos quatro, dois tentavam ocupar o mesmo lugar e os outros dois precisavam de jogar marcando no meio campo. Ronaldinho Gaúcho não jogou nada porque passou a maior parte dos jogos atuando atrás do Kaká, como homem mais recuado dos quatro. E isso o Galvão Bueno não falou, porque não sabe nada de futebol, é pitaqueiro. O pitaqueiro mais bem pago do Brasil mas, ainda assim, um pitaqueiro. Perdemos porque tínhamos que perder para o bem do futebol mundial. A nossa soberania suprema só beneficia a nós mesmos. Agora tudo vai ter mais graça. Perdemos porque tinha que ser assim.
Só a título de curiosidade, a cena do Em Busca do Cálice Sagrado termina assim: a mulher, que sem o disfarce não tem nada de bruxa, é tomada como bruxa após uma argumentação bastante "científica" aplicada pelo sábio e acaba indo para a fogueira.

Nenhum comentário: