13.9.13

A vida que reside nas entrevidas (ou um quase ensaio sobre esmagar doces)

Marido: _ Já disse que eu te amo hoje?

Momentos de silêncio.

Mulher: _ O que você fez de errado?

Marido: _ Então um marido não pode mais dizer à mulher da sua vida que a ama?

Mulher: _ Poder pode, mas acho estranho.

Marido: _ Não há motivo para você achar estranho uma declaração e a minha vontade de querer conversar com você com carinho, atenção.

Mulher: _ Não é a estranheza da conversa, mas do momento.

Marido: _ O que há de errado com o momento? São 20h de uma terça feira, o que há de errado?

Mulher: _ Errado nada, mas é estranho.

Marido: _ E por que é estranho?

Mulher: _ Porque não é usual.

Marido: _ E porque não é usual é estranho?

Mulher:  _ Não é isso que eu estou dizendo, é que você não costuma...

Marido: _ A vida das pessoas agora se resume a essas rotinas quadradas. Você não aceita que eu queira conversar e dizer que te amo porque isso não é usual?

Mulher: _ Calma, não se irrite, eu estava só tentando provar um ponto.

Marido: _ Isso é uma maldade, eu só estava...

Mulher: _ Calma, respira,... tranquilizou?

Marido: _ Tranquilizei.

Mulher: _ Agora me conta por que você queria conversar e estava dizendo que me amava.

Marido: _ Minhas vidas tinham acabado no Candy Crush.

Mulher: _ Sacana. Cachorro.


Marido: _ É aí que reside a vida contemporânea, meu amor, nesses trinta minutos entrevidas de Candy Crush... ou até alguém,.. olhaí, meu sobrinho mandou vida, daqui a pouco a gente conversa.