12.6.07

Gol de Mão

Turma, mais um texto meu que publico na coluna Chute a Gol do ótimo e completíssimo site www.showdebola.com.br


Até que ponto uma atitude dentro de campo pode ser considerada antiética, antidesportiva, digna de repulsa ou não? Lionel Messi, meia canhoto do Barcelona, fez um gol de mão. Tão incrivelmente parecido com o de seu conterrâneo e mestre das artes da bola Maradona quanto aquele outro que fizera contra o Getafe, driblando um time inteiro e fazendo o gol. Não que eu os esteja comparando em habilidade. Messi pode até ter feito um gol parecidíssimo com o de Maradona, mas estava jogando contra o Getafe, pelo espanhol, e não na copa do mundo contra a Inglaterra.

Um gol de mão... ele é imoral? Acredito que o esporte, nos moldes em que foi concebido na Grécia antiga, que é o berço dos nossos padrões atléticos de hoje, não aceita este tipo de artifício. Como substituição à guerra, o esporte deveria ser, antes de razão para enriquecimento, consumismo e estrelato, arte em forma de competição.

Por ter sido idealizado como competição em detrimento à guerra, acredito que o esporte deveria sim ter padrões éticos mais firmes. O leitor pode tentar argumentar que os mil e quinhentos anos que nos separam dessa ideologia que proponho fizeram do esporte algo diferente. Diferente sim, mas a sua raiz se mantém. Afinal, de que vale o futebol se não como exemplo de superação e beleza? De alternativa de vida a pessoas que nada teriam caso levassem uma vida normal? A maravilha do mundo da bola está nos exemplos, nos bons exemplos.

Mas, por um acaso, as botinadas de zagueiros e as matadas de jogadas pelos volantões brucutus que faziam Telê morrer de raiva não são atitudes tão antidesportivas como um gol de mão? Na minha opinião a resposta é sim, em partes. Quando a falta é feita com o objetivo único de atingir o jogador, esquecendo-se em absoluto a bola, o valor é o mesmo. É o anti-futebol, ponto final. Atitude que deveria ser punida de maneira drástica se esperamos que nossos netos continuem praticando tal esporte. Para o futebol, a moralização de seus praticantes e do mundo que gira a sua volta é questão de sobrevivência.

Messi não nos deu um bom exemplo. Repetiu uma atitude fútil de Maradona, que tantos maus legados deixou e ainda deixa. A malandragem não substitui a hombridade. E enquanto o jogador de futebol não perceber isso, continuaremos rumo ao fundo do poço moral que há tantos anos ronda o esporte. É essa a mensagem para a posteridade que deixaremos? Futebol e seus praticantes, chamados profissionais que, em campo, refletem as atitudes dos dirigentes que reinam fora dele.