8.8.10

O Meu amigo Lucas Nogueira

Na semana passada eu disse para mim mesmo: dias assim não deveriam acontecer nunca.

Na sexta feira à noite, chegando de viagem, recebi a notícia de que o meu querido amigo Lucas Nogueira, 27 anos, havia falecido.

O motivo? Pouco importa.

Por 30 minutos, enquanto dirigia o meu carro, refiz um pouco da nossa história juntos e precisei parar o carro para enxugar os olhos e continuar dirigindo.

Quando conheci o Lucas, entrando na faculdade, foi fácil perceber a índole do cara. Sujeito simples, gentil, tranqüilo (a não ser quando o assunto era futebol) e agregador. O Lukinhas era uma daquelas raras pessoas em torno das quais os outros se reúnem. Seja para organizar um churrasco, seja para representar o time da turma, seja para uma confidência, seja para uma boa conversa sem muito objetivo.

Sempre foi, por onde passou, alguém para ser gostado. E acreditem, poucos são queridos como ele foi e ainda é.

Compartilhamos uma mesma paixão, mas de lados opostos. Costumava a dizer que conheci poucos cruzeirenses fanáticos como eu sou atleticano. O Lukinhas era. O Cruzeiro era uma das prioridades na vida dele, assim como o Galo é na minha. Por essa razão nos respeitávamos. Nunca fiz uma piada sobre o assunto com ele, o inverso também valia.

Fomos fundadores do Manguaça Futebol e Regatas, o maior vencedor de títulos da Copa DA, da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas. Do Manguaça o Lukinhas era tudo. Cartola, capitão, jogador, torcedor e corneteiro oficial. Até o hino compusemos juntos.

Só no período da faculdade eu deixei de ser o Alexandre Abramo para me tornar o Guarapan. Guarapas para o Lukinhas.

Fizemos juntos o trabalho de conclusão de curso, um livro sobre a história do Mineirão.

Trabalhamos com futbeol na mesma época, ele como reporter da agência Placar, eu como assessor de imprensa de jogadores de futebol. Quando vim trabalhar no interior, o Lukinhas era o elo que ligava os amigos da faculdade. Ele garantia as inscrições do Manguaça e forçava para que estivéssemos em quadra o mais completos possível.

O último jogo dele pelo Manguaça terminou com uma expulsão. E dessa vez ele nem tinha culpa. Terminou o jogo fomos para a cerveja com vários amigos de futebol e de vida. Foi a última vez que eu estive com ele.

O peso em meu coração é enorme. Por ter perdido um amigo que era construído virtude sobre virtude. Por ver partir alguém tão jovem. E não só pelo amigo que se foi, mas por não ter podido fazer para ele a minha homenagem no momento da sua despedida. Por morar longe não pude ir ao velório, à cremação, ou à missa de 7º dia. Não pude chorar ao lado dos meus amigos. E sinto que ainda não consegui compreender o que aconteceu.

Ao mesmo tempo, fico sonhando acordado com as chances que desperdicei de passar mais tempo ao lado dele. Um churrasco que perdi, um aniversário que faltei, um jogo que não fui por acordar tarde. E esses momentos que não significavam nada há duas semanas, tornam-se, de repente, um vácuo gigantesco no meu passado. Sinto que não pude ser para ele o amigo que ele foi para mim.

Essa dor é solitária. Sofro sozinho, distante, sem saber o que fazer com ela.

Tudo o que me permiti nos últimos dias além de chorar foi escrever essas linhas, uma homenagem pobre e nem de longe digna do amigo que o Lukinhas foi para mim. Mas, infelizmente, é tudo o que posso fazer.

Ficam a saudade e o vazio. Espero poder superá-los com as recordações, todas elas afetivas, do meu amigo que se foi. Tudo o que lembro não vem em minha mente. Tudo o que reconstruo do nosso passado não é racional.

É tudo sentimento.

Acho que é assim que ele gostaria que eu fizesse.

Um descanse em paz para o Lukinhas. Para os amigos e familiares que ficam, a certeza de que o que ele fez ao nosso lado será lembrado, relembrado e celebrado para o resto das nossas vidas.

Um abraço Lukinhas. Garantirei que milhõe de brindes venham em sua homenagem. Nos vemos um dia, quando espero ouvi-lo me chamando de Guarapas.

Do seu amigo Alexandre Abramo.

2 comentários:

Anônimo disse...

sem palavras para te dizer...pura emoção no seu relato...que pessoa maravilhosa você teve como amigo.

Priscila disse...

Muito triste a partida de uma pessoa tão jovem. Estudei no prédio 13 na mesma época e fiquei muito triste ao ver a notícia através do orkut.
Aos amigos e família, restam as boas lembranças e a esperança que ele esteja em um lugar melhor do que nós.
Acontecimentos assim nos lembram como somos ínfimos diante desta vida. Por isso devemos sempre reconhecer o valor das coisas mais simples, do respeito ao próximo e de lembrarmos sempre de dizer "eu te amo" às pessoas especiais de nossas vidas.
Que o Lucas esteja em paz olhando por todos que o amam.
ass: Priscila