_ Bom dia Dr. Neira.
_ Bom dia dona Daiane, vamos entrar?
_ Muito agradecida pela gentileza.
_ Pode recostar-se no divã, fique à vontade.
_ Dr. Neira, preciso que o senhor converse comigo, não aquela coisa que o senhor costuma fazer de ficar calado para ver como eu vou reagir, preciso que o senhor converse comigo, tudo bem?
_ Sou todo ouvidos dona Daiane.
_ Pois bem, eu não suporto mais o meu filho?
_ Mas porque dona Daiane, o filho da senhora não é um homem bem sucedido e bom filho?
_ Era Dr. Neira, era. Virou um sujeito cheio de empáfia, cheio de si e mal resolvido. Veja que nem mesmo a mãe ele chama mais de mãe.
_ E como ele se refere à senhora?
_ Pelo meu nome.
_ E qual é o problema que a senhora tem com o seu nome.
_ Nenhum, mas quero que meu filho me chame de mãe.
_ Acho que a senhora exige muito dele. A opção por escolher como chamar a mãe é do filho e não
o contrário
_ Roberval, não me tire do sério.
_ Não me chama de Roberval, mãe.
_ Aaaaaah, agora sou sua mãe né, antes era dona Daiane.
_ Você sabe que Roberval não é um nome que caia bem pra minha vida profissional
_ E dona Daiane não é um que cai bem na minha.
_ Mas você é dona de casa.
_ Então, dona de casa que não é mãe é empregada.
_ A senhora não me deixa alternativas, vou repassar o seu horário para alguém que precise de verdade.
_ Meu filho, ninguém precisa de verdade de um psiquiatra
_ Isso é o que a senhora pensa. Quem curou sua mania por tomar remédios?
_ Um remédio, é claro!
_ Que remédio?
_ Aquele que você me receitou, Finasterida.
_ Mãe, aquele remédio é pra queda de cabelo. O papai tomava.
_ ... você está brincando.
_ Seríssimo.
_ Desnaturado. Me receita um remédio de verdade.
_ Antes a senhora vai ter que me chamar de Dr. Neira.
_ Dr. Neira, Dr. Neira, ainda usa o nome daquele inútil do seu pai.
_ Você queria que eu chamasse como? Dr. Andrógena? Esse sobrenome infeliz que o vovô deixou?
_ Dr. Roberval Andrógena Neira, um nome muito bonito, sim senhor.
Dr. Neira dá uma gargalhada gutural
_ Está rindo do que menino?
_ De nada. Só me lembrei de um paciente.
_ O que tem ele?
_ Sigilo profissional, não posso contar que ele colocou nome de feriados nacionais em todos os filhos.
_ Você só pode estar brincando.
_ É sério.
_ Eu sei que é sério, você só pode estar brincando que o Natanael é seu paciente.
_ É sim, conhece?
_ Foi meu primeiro namorado. Ele escolheu comigo o nome do nosso possível primeiro filho
_ Que nome era?
_ Roberval.
_ Você me deu o nome que escolheu com seu ex-namorado?
_ O bundão do seu pai não quis escolher um.
_ E porque a senhora não me deu um nome normal? De algum apóstolo, evangelista, anjo, santo... sei lá, Daniel, Rafael, Gabriel, Tiago, Pedro, Paulo, Francisco.. qualquer coisa que a bíblia pudesse te inspirar?
_ Aminadabe.
_ O que?
_ Aminadabe.
_ Que isso, uma proteína?
_ Minha segunda opção de nome pra você.
_ De onde veio isso?
_ É um personagem bíblico, do velho testamento, em hebraico quer dizer “o meu povo é nobre”.
_ E o que quer dizer Roberval?
_ É a aglutinação dos nomes Roberto e Valéria, tem origem teutônica
_ Mas a senhora chama Daiane e o pai chama José Augusto
_ Minha hora acabou Dr. Neira
_ Vai me explicar isso mãe?
_ Passar bem Dr. Neira, passar bem.
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