O telefone toca. Sorumbático, Dr. Neira olha o número do telefone. Número privado. Muitas coisas incomodam Dr. Neira profundamente, mas apenas duas ele odeia: banana caramelada e número privado.
_ Dr. Neira?
_ Isso.
_ Eu me decidi, vou tomar quimioterapia
_ Neide?
_ Claro, que outro paciente no meu estado você tem?
_ Três, tenho três.
_ Pois então, estou decidida!
_ Neide, nós já conversamos sobre isso, você tem uma tendinite crônica na perna, você não
precisa de quimioterapia.
_ O senhor está errado, eu tenho câncer.
_ Neide, se você já decidiu porque me ligou?
_ Porque o senhor é o responsável pela minha saúde.
_ Responsável pelo que eu receito, certo?
_ Não senhor, eu vou tomar quimioterapia e se alguma coisa me acontecer você é o responsável.
_ Mas Neide, eu sou seu psiquiatra, não posso te receitar sessões de quimioterapia.
_ Pois não vai precisar, eu já arranjei tudo, comprei lá no centro o produto e as seringas.
_ Neide, você está maluca? Isso não é produto que se ache no centro, é remédio controlado.
_ O senhor não tem noção das coisas que podemos achar no centro.
_ Você precisa de acompanhamento médico pra tomar quimioterapia.
_ Por isso liguei pro senhor.
_ Pois esqueça, o máximo que você vai ter é a minha solidariedade à sua família depois do enterro.
_ Credo Dr., o senhor anda tão mórbido.
_ Tem jeito de ser diferente com você Neide?
_ Tem, com carinho e jeito eu costumo ceder.
_ Eu já desisti.
Alguns segundos se passam e Neide abranda a voz.
_ Dr. Neira, o que o senhor acha que eu deveria tomar para curar meu câncer?
_ Posso ser honesto Neide?
_ Pode!
_ Vai tomar no seu cu.
(barulho de telefone desligado)
Trinta segundos se passam com Neide pensativa.
_ É, agora ele apelou mesmo...
Neide tira o telefone da orelha e grita para dentro do quarto:
_ Benhê, pega o telefone do Dr. Claudio!?
Nenhum comentário:
Postar um comentário