tag:blogger.com,1999:blog-376538342024-03-13T08:33:53.536-03:00Pitacos e RelatosO Pitacos e Relatos é um blog que pretende tratar de política além de um pouquinho de futebol e outro tanto sobre o nada. Há anos venho moldando o formato e agora ele é bem definido, do jeito que eu queria,... uma zona. Assim como ele começou, espero que não mude nunca. Você é bem vindo, pitaque sobre os meus pitacos, a casa é sua.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.comBlogger40125tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-82432019240702850842014-01-17T08:16:00.000-02:002014-01-17T09:51:49.126-02:00Carta aberta para Gilberto Silva, uma história vista pelas arquibancadas<div class="MsoNormal">
Caro Gilberto,<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-pKOo2dDkZ54/UtkCy25-5FI/AAAAAAAABbw/dW4A4dJdCog/s1600/228251_1946640980686_1328564_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-pKOo2dDkZ54/UtkCy25-5FI/AAAAAAAABbw/dW4A4dJdCog/s1600/228251_1946640980686_1328564_n.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Tenho 31 anos, sou um atleticano na essência da palavra.
Como atleticano, vivi todos os percalços que não precisam ser narrados aqui,
você também os conhece (e viveu alguns).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Escrevo essa carta com o puro sentimento de gratidão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Não tive muitos ídolos no futebol. Eu conheci a forma como
as coisas são feitas nesse meio e isso me impediu, por muito tempo, de nutrir
idolatria pelos grandes jogadores que passaram pelo Galo.<br />
Admiro alguns,
idolatro pouquíssimos.<br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<div class="MsoNormal">
Acompanhei a breve novela que foi a sua contratação junto ao
América lá no começo do século (parece que faz uma eternidade que isso
aconteceu). Queria muito que você fosse contratado. Eu tinha 18 anos na época, e
compreendia mais o futebol pelo grito da arquibancada que pela tática dentro
dele. Mas você me parecia o volante perfeito. Tinha postura, tinha velocidade,
sabia passar a bola e não se afobava ao marcar os meias marrentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando você foi contratado e começou a jogar, ficou claro
pra todo mundo que tínhamos acertado com o melhor primeiro volante da história
recente do clube, ainda que tenha sido improvisado como zagueiro em diversas
ocasiões.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Vi aquele belo time do Galo de 2001 perder uma semifinal
para São Pedro, não para São Caetano, como conta a história. Sofremos juntos
aquela derrota. <o:p></o:p></div>
<span style="font-family: inherit;">Acompanhei sua primeira convocação para a seleção, assisti àquele jogo para torcer pelo Gilberto Silva, não pela Seleção. O resultado não foi dos melhores, mas me lembro de ficar satisfeito com a sua postura.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />Lembro daquela desclassificação na Copa do Brasil para o Brasiliense, e nada me tira da cabeça que essa derrota e a do Campeonato Brasileiro foram daquelas para educar o atleticano.<br />Nosso time era bom. Foi o acaso, ou a intervenção divina, que nos tirou aqueles dois títulos. Não vamos reclamar. A história é o que é, e não adianta remoer o sofrimento.<br /><br />Quando você foi convocado para a Copa de 2002, não muito tempo depois da desclassificação, eu comemorei. Como atleticano e como fã do jogador e do homem de bem que você sempre foi.<br /><br />Durante a preparação, lembro de assistir, na academia, a notícia de que o Emerson havia lesionado o ombro no treino. Não falavam isso abertamente ainda, mas eu tinha certeza de que não havia outra pessoa para assumir esse lugar. Ninguém fica feliz com o infortúnio alheio, mas não posso negar que eu sorri.<br /><br />A Copa, em si, é uma lembrança bonita na minha história de torcedor. Afinal, mais uma vez, eu assistia ao jogo para torcer pelo Gilberto Silva Futebol Clube. E o momento mágico dessa fase foi o gol do Fenômeno contra a Turquia, numa jogada essencialmente sua. Mágico.<br /><br />Veio o título, aquela imagem histórica de você e Ronaldo beijando a taça, e em seguida a venda para o Arsenal.<br /><br />Mesmo no dia em que você saiu do Galo, o meu sentimento de agradecimento era maior do que qualquer coisa. Afinal, foi com o dinheiro da sua venda que construímos aquele que é hoje um dos melhores centros de treinamento do planeta. Sempre me pergunto se você pensava nisso enquanto treinava em 2013, no Galo. Passava pela sua cabeça que era você um dos principais responsáveis pela estrutura do clube que tínhamos nos tornado?<br /><br />O meu tempo como Gilberto Silva Futebol Clube não acabou. Acompanhei cada um dos seus passos no Arsenal. Vi você fazer por duas ou três vezes o melhor meio campo que já vi na vida. Na minha humilde opinião vai demorar para existir um meio campo defensivo como Gilberto e Vieira de novo na história do futebol. Quanto estilo. Vocês deveriam jogar vestidos de fraque e cartola, não de chuteira e calções.<br /><br />Fiquei chateado naquela final da Champions em 2006. Depois do aperto com aquela lesão na coluna, você merecia ter levantado a taça. E perder com um gol do Beletti, seu companheiro de Galo, no último minuto de jogo. É muita maldade.<br /><br />Foi nessa época que tive a chance de conhecê-lo, se é que podemos chamar essas oportunidades disso. Foram duas oportunidades rápidas. Eu trabalhando na Granja Comary no pré copa e me contendo vendo tantos gênios em campo.<br /><br />Aquela era uma seleção que tinha Ronaldo, Ronaldinho, Adriano, Kaka, Robinho, Alex (ele estava nessa convocação), Juninho Pernambucano, todos no auge, isso pra ficar em quem jogava do meio pra frente. Não sai da minha cabeça os coletivos que assisti (que a névoa não atrapalhou, naturalmente), o tal Ronaldinho Gaúcho, maior do mundo na época, ia pra cima de todo mundo. Quando encarava Gilberto Silva, costumava tentar uma enfiada de bola ou um passe de lado. Nos 4 dias de Granja, não vi o Ronaldinho tentar driblá-lo nenhuma vez.<br /><br />Assessor de imprensa em começo de carreira que era, precisei me segurar. Não podia sair tirando foto com todo jogador que passava. Decidi que ia fazer isso uma vez só. Já anoitecia, depois de atender toda a imprensa você dava uma entrevista para o Paulinho, seu assessor, que com a competência usual elaborava o material para disponibilizar para rádios e jornais que não tivessem jornalistas in loco. A foto que tirei com você ficou meio escura, e me arrependo todos os dias por ter usado naquela época um cabelo ridículo como aquele. Estragou a foto.<br /><br />Depois disso, o Gilberto Silva Futebol Clube teve dois momentos difíceis para mim. O primeiro na Grécia, pela dificuldade em assistir aos jogos do Panathinaikos e o segundo na sua volta ao Brasil. Senti intensamente em vê-lo voltar a atuar no Brasil, mas pelo Grêmio, não pelo Galo. Eu não perdoo a nossa diretoria por não ter se empenhado em trazê-lo naquele momento. Vejo que diversos problemas que tivemos em 2011, inclusive um tal último jogo de campeonato brasileiro, teriam histórias diferentes se tivéssemos você no elenco.<br /><br />Essa história pousa em 2013, no ano de dois mil e Galo. Vê-lo atuar de novo pelo meu time me enchia de satisfação. Os tempos já eram outros, eu sou um trintão, não sou mais aquele menino, mas o tempo não me desfez torcedor. Meu cartão de Galo na Veia me garantiu assistir você jogar ao longo do ano, e serei eternamente grato por esses dias (e por aquele detalhe, a taça da Libertadores).<br /><br />Nós sabemos que os últimos anos da sua carreira como jogador estão aí. Eu não sei se você renovará com o Galo, se irá para outro clube, se encerrará a sua carreira. O que eu queria, ao escrever essa enorme carta, era dizer a você que nós estamos e estaremos aqui. Nós, que amamos futebol, mas que, principalmente, defendemos o bem, estamos e estaremos aqui por você.<br /><br />Estivemos juntos por tantos anos, mesmo sem você saber, e estaremos para outros que vierem. O que você fez pelo Galo e pelo futebol são marcas na história, ficarão escritas e registradas. Em livro, em imagens e na internet. Mas o que você fez por mim e por diversas outras pessoas, isso fica marcado de outro jeito. Gente como você me faz acreditar que é possível ser correto em um meio corrompido. Gente como você me faz tentar ser melhor na minha profissão, mesmo que lá estejam os picaretas e os corruptos. Gente como você me faz lembrar que a nossa essência é para construir e não para destruir. Você ajudou a fazer uma geração de homens melhores (ao menos os que estavam atentos aos sinais). E por isso eu te agradeço, Gilberto.<br /><br />Seja feliz. Você merece. O Gilberto Silva Futebol Clube não pendura as chuteiras, independente da sua decisão agora. Ele ficará ativo enquanto houver necessidade de plantar o bem em um mundo dúbio como o nosso.<br /><br />Muito obrigado por tudo. Você é um ídolo para mim.<br />Alexandre Balaguer Abramo, membro fiel do Gilberto Silva Futebol Clube.<br /><br /> </span>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-53916524232473492022013-12-19T09:28:00.000-02:002013-12-19T09:28:01.766-02:00O Raja Casablanca e a malvadeza dos tempos idos<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-me8ys22wjfs/UrLYBqD57JI/AAAAAAAABKg/OtdMaAOsHT8/s1600/ronaldinho02_ap_15.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-me8ys22wjfs/UrLYBqD57JI/AAAAAAAABKg/OtdMaAOsHT8/s1600/ronaldinho02_ap_15.jpg" height="260" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: globo.com</td></tr>
</tbody></table>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">O Galo perdeu pro Raja Casa Blanca. Não era para ninguém estar surpreso. A história do Atlético está cheia de momentos como esse. A expectativa, o bom time, o jogo, a queda. A questão é que essa libertadores de 2013 havia libertado o atleticano, sem trocadilhos. A impressão é de que toda aquela malvadeza do tempo tinha finalmente abandonado a casamata alvinegra. Estávamos livres.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Mas não.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">No momento do terceiro gol do Raja eu apaguei a televisão. Atleticano sofrido que sou não fui a bares ou encontros com amigos. Tenho medo. Não gosto do sentimento de me ver derrotado fora de casa. Assisto aqui, seguro, salvo (ou no Horto, onde não tenho mais medo desde que Riascos partiu pra bola...).</span><br />
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Voltemos ao gol, portanto. Eu apaguei a televisão. E naquele momento, o misto de indignação, tristeza e incredulidade misturou-se com algum alívio. Não é o alívio do vencedor, aquele que transborda a alma e transforma-se em alegria. É aquele alívio melancólico, do: pelo menos essa expectativa acabou.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">É que pro atleticano essa expectativa tortura: “Será como era ou será como começou a ser há uns meses?”</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Imediatamente saí de dois ou três grupos de whatsapp por precaução, dirigi-me àquele armário da cozinha que eu queria arrumar desde o fim da libertadores. Jurava que tinha algum bicho atrás de tudo. Tirei a terra do bonsai que repousava na área de serviço desde que Rever levantou aquela taça libertadora. Arrumei a casa, limpei a poeira da estante, serenamente, enquanto do lado de fora os foguetes dos secadores de plantão estouravam. Minha mulher olhava para mim incrédula. Levantei-me, abracei-a como há tempos não fazia.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Eu estava livre. Não é a liberdade do vencedor, mas é uma liberdade, ao menos. Minha vida, que entrara em stand by depois do jogo contra o Olimpia no Mineirão pode, finalmente, voltar a andar:</span><br />
<br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;" />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Ao menos enquanto o Galo não estiver por lá de novo, prestes a disputar o jogo da vida. Até lá eu estou livre, chateado, mas livre... até acabar janeiro.</span>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-59314537640034551592013-09-13T16:41:00.000-03:002013-09-13T16:45:15.773-03:00A vida que reside nas entrevidas (ou um quase ensaio sobre esmagar doces)<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-icwCHp9tQYo/UjNrDvzGEPI/AAAAAAAAAe0/NeLzKsiwvPY/s1600/Candy-Crush-Cake-a3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-icwCHp9tQYo/UjNrDvzGEPI/AAAAAAAAAe0/NeLzKsiwvPY/s1600/Candy-Crush-Cake-a3.jpg" height="225" width="400" /></a></div>
Marido: _ Já disse que eu te amo hoje?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Momentos de silêncio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ O que você fez de errado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ Então um marido não pode mais dizer à mulher da
sua vida que a ama?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Poder pode, mas acho estranho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ Não há motivo para você achar estranho uma
declaração e a minha vontade de querer conversar com você com carinho, atenção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Não é a estranheza da conversa, mas do momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ O que há de errado com o momento? São 20h de uma terça
feira, o que há de errado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Errado nada, mas é estranho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ E por que é estranho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Porque não é usual.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ E porque não é usual é estranho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Não é isso
que eu estou dizendo, é que você não costuma...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ A vida das pessoas agora se resume a essas rotinas
quadradas. Você não aceita que eu queira conversar e dizer que te amo porque
isso não é usual?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Calma, não se irrite, eu estava só tentando provar
um ponto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ Isso é uma maldade, eu só estava...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Calma, respira,... tranquilizou?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ Tranquilizei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Agora me conta por que você queria conversar e estava
dizendo que me amava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marido: _ Minhas vidas tinham acabado no Candy Crush.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mulher: _ Sacana. Cachorro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Marido: _ É aí que reside a vida contemporânea, meu amor, nesses
trinta minutos entrevidas de Candy Crush... ou até alguém,.. olhaí, meu sobrinho mandou vida,
daqui a pouco a gente conversa.<o:p></o:p></div>
Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-30166288733111712652013-08-28T14:20:00.002-03:002013-08-28T14:24:34.241-03:00Contos/Crônicas da vida real - Rum<a href="http://1.bp.blogspot.com/-CHVdBSnYw7c/Uh4xnFV-abI/AAAAAAAAAeM/mk61Rsj2NRE/s1600/bandeira_pirata_para_barcos.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-CHVdBSnYw7c/Uh4xnFV-abI/AAAAAAAAAeM/mk61Rsj2NRE/s1600/bandeira_pirata_para_barcos.JPG" height="190" width="320" /></a><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Me dá um rum!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">O garçom olhou pra mim como se aquele fosse o pedido mais
estapafúrdio que já houvessem feito em toda a história das pizzarias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Com coca cola? Falou em seguida, com uma testa franzida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Não, só o rum mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Mas o senhor quer o rum, com rum e só?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Isso, uma dose de rum.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Com gelo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Não, amigo, só uma dose de rum em um copo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Ele saiu, deu dois passos, parou um instante, como se fosse
dar meia volta e perguntar novamente, mas seguiu seu rumo. Dois minutos depois voltou,
trazia dois copos, em um a dose de rum, no outro um copo com gelo e limão:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">_ Pra caso o senhor... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">E emudeceu, como se dissesse, “para caso o senhor decida
tornar-se minimamente normal nos próximos minutos”. Meus amigos na mesa acharam
igualmente estranho. Só que traduziram isso em risos. Afinal, havia na mesa um
que sempre teve especial simpatia por bandeiras piratas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A normalidade é relativa. Ela vai até o espaço em que a
minha insanidade é maior do que a sua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 17px;">
</span>
</span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-66895930658045173322013-07-25T09:35:00.000-03:002013-08-07T17:00:31.942-03:00O ateu que encontrou Deus<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-s1D5rymVjyE/UgKnCYGsMaI/AAAAAAAAAdc/vjfEbSQvz_c/s1600/9364443226_8c72535b8e.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-s1D5rymVjyE/UgKnCYGsMaI/AAAAAAAAAdc/vjfEbSQvz_c/s1600/9364443226_8c72535b8e.jpg" height="265" width="400" /></a><span style="text-align: justify;">Não acreditava em Deus. Coisa de
bobo, necessidade de dar sentido em toda e qualquer situação da vida. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-align: justify;">Se alguém
morre, “é que Deus quis”, se alguém cura “foi Deus que fez”. E assim era, e
assim viveu, até uma noite de julho. O céu nublado trazia um tom estranho para
o inverno de Belo Horizonte. Nas ruas, um movimento todo em preto e branco,
listrado na vertical.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O dia que não passa, a hora que
não chega. O trabalho que não rende, o patrão que não entende. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No caminho da arena, carro e van,
ônibus e gente a pé, numa mistura estranha e improvável de tranquilidade e
leveza com engarrafamento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O barulho da arquibancada, o soar
do tambor, o grito da garganta, rasgando a alma e transformando o peito em
caixa amplificada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passa um tempo e nada. O nosso
ateu, coitado, nem à oração pode recorrer. Recorre então a São Cuca e torce pra
que troque certo, pra que a luz da razão e sabedoria de Ronaldinho transforme
suor em gol.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">GOL</span></b>. Lágrima no olho, choro contido que deságua, peito sofrido
que aceita e acredita,... Ele acredita. Eu acredito, eles todos acreditavam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas ai um grandalhão com jeito de
gladiador arranca na corrida, dribla o duas vezes salvador, e, com o gol
aberto, cai no gramado com um escorregão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No campo o suspiro de alívio, no
coração do ateu: dúvida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Afinal, não é possível. Ou é? Faz
sentido. Ou não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">GOL</span></b>. Lágrimas nos olhos, choro incessante, peito aliviado de
quem acredita nos pés dos homens, mas não nas mãos de Deus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas um gol tão no final. Isso lá
é coisa de gente? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi quando veio tudo na cabeça,
os pênaltis não marcados, o pé esquerdo do goleiro no último minuto, no último pênalti
da vida, o placar improvável que é revertido, duas vezes, os pênaltis que viram
vitória, o escorregão magistral do gol que não foi. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E aquilo virou luz. O choro de
vitória foi também choro de revelação. Ele existe. Deus existe. Estava em cada
bola, em cada gol, em cada defesa, em cada revés. Deus existe, ele entendeu, e
atleticanamente orquestrou a história para que esse fosse o mais épico, mais
incrível e improvável acerto de contas que o mundo do futebol já viu.<br />
<o:p></o:p></div>
Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-46825790382326831802011-01-26T15:28:00.003-02:002011-04-26T08:19:16.345-03:00Uma nota de cinquenta reais<span style="font-family:verdana;">No último final de semana deparei-me com um sentimento estranho que me fez sentar em frente ao computador e escrever estas linhas. Na fila da Araujo Drugstore de um shopping qualquer, vi jogado naquele balcãozinho de chicletes, aquele mesmo que fica na boca do caixa só para te fazer gastar 3 reais a mais comprando uma balinha na hora de pagar a conta, uma nota de 50 reais. Ela estava ali deitada, tranquila, passando incólume pelos olhos alheios, rápidos e superficiais do dia a dia. Era uma nota não notada, digamos assim.<br /><br />Ao bater os olhos nela veio o tal sentimento que me trouxe a esse texto. Primeiro uma excitação rápida: Opa, ganhei essa grana. Em seguida, ao ver uma moça que aparentemente tinha ido buscar um outro produto voltar à boca daquele caixa, a frustração: Putz, ela vai pegar minha grana. Bem, ela não pegou.<br /><br />Nesse momento, em poucos instantes, eu recriava a história da identidade brasileira em minha mente.<br /><br />O dinheiro não era meu, talvez fosse daquela dona, talvez não. Com toda honestidade, não sou nem nunca fui nenhum santo. Entretanto, me orgulho de ser um cara com retidão moral e ética. Fui criado para ser assim e gosto de ser assim. Não me traz sofrimento ser passado para trás quando tenho certeza de que minha ação se pauta na honestidade. Posso ser um otário, mas sou um otário que tem certeza de que ser otário é a opção mais correta.<br /><br />Só que o meu impulso ao ver aquela nota de cinqüenta reais foi de tomá-la sorrateiramente e seguir em frente.<br /><br />Cerca de dois minutos se passaram e o sentimento aprofundou-se. Àquela altura ainda pensava qual seria a conduta correta a seguir: cutucar a dona, perguntar se era dela aquele dinheiro? Ou pegar e usar? Ou ainda pegar e doar? Entregar o dinheiro para a caixa para quando o dono voltasse para buscar?<br /><br />E o impulso de guardá-la em minha carteira?<br /><br />Afinal de contas eu sou, como penso, uma pessoa boa?<br /><br />Se eu fosse de fato bom estaria precisando passar por aquela reflexão? Uma pessoa realmente boa não teria o impulso de simplesmente entregar o dinheiro a alguém e seguir em frente?<br /><br />Complexo, muito complexo.<br /><br />Chegou minha vez, no caixa ao lado.<br /><br />Paguei a compra com os meus cinqüenta reais, que ganhei trabalhando duro em Juiz de Fora, minha nova casa.<br /><br />Passando ao lado da moça que escondia, mal sabia ela, cinqüenta reais em sua frente, toquei-a no ombro e disse:<br /><br />_ Senhora, tem uma nota de cinqüenta reais na sua frente.<br /><br />E ela:<br /><br />_ Olha, é mesmo! Será que caiu da minha bolsa?<br /><br />Pela resposta eu já percebi que não passava pela cabeça dela a mesma reflexão moral que passava pela minha. O dinheiro não era dela, e ela iria embolsá-lo. Olhei para o caixa e vi num panfleto a simpática baleia, símbolo de um hospital em Belo Horizonte que já me recebeu como voluntário, vestido de palhaço para alegrar as crianças com câncer lá pelos meus 17 anos.<br /><br />_ Caso não seja da senhora, doe para o Hospital da Baleia.<br /><br />Segui meu rumo sem olhar pra trás. Não queria ver nos olhos dela a esperteza marota do brasileiro corrente e me indignar.<br /><br />A dúvida continua. Eu sou bom por natureza ou sou como qualquer espertalhão? Talvez seja um espertalhão com alguns valores incrustados na base da porrada ao longo da vida.<br /><br />Uma coisa é fato, fui embora de consciência tranqüila, mas com uma pulga atrás da orelha.<br /><br />Eu sou um otário. Isso já disse desde o começo. Posso ter dúvidas se sou ou não uma pessoa boa, mas isso por si só já é suficiente para ser o tipo de otário que dorme em paz todas as noites.</span>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-39555954284037573782010-08-15T22:30:00.001-03:002010-08-15T22:32:46.826-03:00Dr. Neira no Censo<p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Época de censo. Toca a campainha do apartamento do Dr. Neira. Segunda-feira, 20 horas.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Dr. Neira atende:</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Pois não?!<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">É o Censo, o senhor pode responder algumas perguntas? Não vai demorar muito.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Pode subir.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Calibri;">A moça sobe, vestida com um bonezinho azul, um colete esquisito e um palm no punho esquerdo.<o:p></o:p></span></i></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Qual é o seu nome:</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Dr. Neira.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não, o seu nome mesmo.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Esse é o meu nome. <o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O primeiro nome?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Não, o sobrenome. <o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">E qual é o primeiro?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Roberval Andrada Neira.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Com dois esses?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Moça, onde pode ter dois esses? <o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não sei, sempre faço essa pergunta. Pra não ter erro sabe?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Sei.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Qual seu estado civil?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Divorciado.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Essa opção não tem seu Roberval, casado, solteiro ou tico-tico no fubá?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Como?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Casado ou solteiro?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Solteiro.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Sexo?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Sim.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não moço, quero saber é se é homem ou mulher.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">O que você acha minha querida.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Homem?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Tá vendo, te peguei, sou transexual. Sou mulher, mas fiz cirurgia, coloca ai, transexual.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não tem essa opção Dr., é ou homem ou mulher.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Então eu quero que você coloque homem, porque é essa a minha alma.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Mas moço, não quero saber o sexo da sua alma, isso não vale nada pras estatísticas do país.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Quer dizer que não existe censo de transexual? <o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não tem a opção aqui no computadorzinho, mas posso colocar uma observação no final.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Então coloque.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Quantos banheiros você tem na casa?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Pra que diabos você quer saber disso?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não sei moço. Não complica a entrevista, quantos banheiros você tem na casa? </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Conta banheiro de empregada?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Então tenho dois, mais o da empregada.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Quantas pessoas moram nessa casa?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Só eu.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Então pra que o senhor tem dois banheiros?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Essa pergunta tá no questionário?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não, fiquei curiosa.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">É que eu uso um pra fazer minhas necessidades e no outro eu afogo visitante indesejado na privada.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Credo moço.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Faz a próxima pergunta, vamos acabar com isso.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O senhor tem filhos?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Tenho, dois.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Esposa?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Já não disse que sou solteiro?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">É que fiquei curiosa. Quanto o senhor ganha por mês?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Como assim?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Quanto o senhor ganha por mês, entre salários e outras fontes de renda?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Não quero revelar.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Credo moço, quanta falta de cidadania.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Cidadania o escambau, tenho direito à privacidade.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Mas moço, o senhor precisa entender que esses dados servem para medir a situação do país e garantir políticas públicas adequadas para o futuro.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Como assim você me pergunta se Roberval Andrada Neira escreve com dois esses e formula uma frase assim?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">É que tá aqui, no computadorzinho, em argumentos para dar a respondentes que não querem responder.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Eu continuo sem querer responder.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O senhor é muito mal humorado. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Esse comentário está ai no computadorzinho?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não, eu que acho mesmo. Qual é o seu nível de escolaridade?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Mestrado.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Então o senhor é mestre?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Não, sou psiquiatra.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Entendi.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Entendi o que?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Seu mal humor.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Uma coisa não tem nada com a outra.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Tem sim, pessoas que vivem de escutar o problema dos outros acabam amargas, se afastam de cristo.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Quem falou isso?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O pastor da minha igreja.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Trinta mil.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O que é trinta mil?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Meus rendimentos mensais.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Nossa moço, você faz um dinheiro bom hein! Quem faz isso tem uns 4 a 5 banheiros por casa. O senhor devia sorrir mais.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Me faltam motivos. <o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Quer ir na minha igreja? Por 20% o senhor vai melhorar tudo na sua vida.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">20%?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">20% dos seus rendimentos.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Por 20% dos meus rendimentos meus filhos voltavam a morar comigo.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">E porque você não faz isso?</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Prefiro continuar pagando os 15% pra minha mulher e manter todos eles longe. É mais barato e mais saudável.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Moço, acho que nossa entrevista acabou.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Mas agora eu estava começando a gostar.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não seja cínico, ninguém gosta de censo.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Você é mais esperta que eu imaginava.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">E o senhor mais previsível do que pensa.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Não seja insolente, quer vir tratar comigo? Faço de graça.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não. Minha salvação está em mim mesma.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Seu pastor disse isso?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não, o Kurt Cobain três meses antes de se matar.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Ele devia estar errado, não?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Depende se ele chegou no Nirvana ou não. É uma questão filosófica, não tenho tempo pra tratar dela com o senhor.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Você vai voltar?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Não, não vou.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">De todo jeito leva meu cartão, você pode querer vir aqui um dia se consultar.<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Passar bem Dr. Neira.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Calibri;">Espera, qual é o seu nome?<o:p></o:p></span></b></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Eu faço as perguntas aqui. Passar bem Dr., passar bem.</span></p>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-12181785807207701722010-08-08T23:54:00.003-03:002010-08-09T00:06:54.435-03:00O Meu amigo Lucas Nogueira<p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Na semana passada eu disse para mim mesmo: dias assim não deveriam acontecer nunca.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Na sexta feira à noite, chegando de viagem, recebi a notícia de que o meu querido amigo Lucas Nogueira, 27 anos, havia falecido.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O motivo? Pouco importa.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Por 30 minutos, enquanto dirigia o meu carro, refiz um pouco da nossa história juntos e precisei parar o carro para enxugar os olhos e continuar dirigindo. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Quando conheci o Lucas, entrando na faculdade, foi fácil perceber a índole do cara. Sujeito simples, gentil, tranqüilo (a não ser quando o assunto era futebol) e agregador. O Lukinhas era uma daquelas raras pessoas em torno das quais os outros se reúnem. Seja para organizar um churrasco, seja para representar o time da turma, seja para uma confidência, seja para uma boa conversa sem muito objetivo. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Sempre foi, por onde passou, alguém para ser gostado. E acreditem, poucos são queridos como ele foi e ainda é. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Compartilhamos uma mesma paixão, mas de lados opostos. Costumava a dizer que conheci poucos cruzeirenses fanáticos como eu sou atleticano. O Lukinhas era. O Cruzeiro era uma das prioridades na vida dele, assim como o Galo é na minha. Por essa razão nos respeitávamos. Nunca fiz uma piada sobre o assunto com ele, o inverso também valia.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Fomos fundadores do Manguaça Futebol e Regatas, o maior vencedor de títulos da Copa DA, da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas. Do Manguaça o Lukinhas era tudo. Cartola, capitão, jogador, torcedor e corneteiro oficial. Até o hino compusemos juntos. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Só no período da faculdade eu deixei de ser o Alexandre Abramo para me tornar o Guarapan. Guarapas para o Lukinhas.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Fizemos juntos o trabalho de conclusão de curso, um livro sobre a história do Mineirão. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Trabalhamos com futbeol na mesma época, ele como reporter da agência Placar, eu como assessor de imprensa de jogadores de futebol. Quando vim trabalhar no interior, o Lukinhas era o elo que ligava os amigos da faculdade. Ele garantia as inscrições do Manguaça e forçava para que estivéssemos em quadra o mais completos possível.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O último jogo dele pelo Manguaça terminou com uma expulsão. E dessa vez ele nem tinha culpa. Terminou o jogo fomos para a cerveja com vários amigos de futebol e de vida. Foi a última vez que eu estive com ele.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">O peso em meu coração é enorme. Por ter perdido um amigo que era construído virtude sobre virtude. Por ver partir alguém tão jovem. E não só pelo amigo que se foi, mas por não ter podido fazer para ele a minha homenagem no momento da sua despedida. Por morar longe não pude ir ao velório, à cremação, ou à missa de 7º dia. Não pude chorar ao lado dos meus amigos. E sinto que ainda não consegui compreender o que aconteceu. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Ao mesmo tempo, fico sonhando acordado com as chances que desperdicei de passar mais tempo ao lado dele. Um churrasco que perdi, um aniversário que faltei, um jogo que não fui por acordar tarde. E esses momentos que não significavam nada há duas semanas, tornam-se, de repente, um vácuo gigantesco no meu passado. Sinto que não pude ser para ele o amigo que ele foi para mim. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Essa dor é solitária. Sofro sozinho, distante, sem saber o que fazer com ela.</span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Tudo o que me permiti nos últimos dias além de chorar foi escrever essas linhas, uma homenagem pobre e nem de longe digna do amigo que o Lukinhas foi para mim. Mas, infelizmente, é tudo o que posso fazer. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Ficam a saudade e o vazio. Espero poder superá-los com as recordações, todas elas afetivas, do meu amigo que se foi. Tudo o que lembro não vem em minha mente. Tudo o que reconstruo do nosso passado não é racional. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">É tudo sentimento. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Acho que é assim que ele gostaria que eu fizesse. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Um descanse em paz para o Lukinhas. Para os amigos e familiares que ficam, a certeza de que o que ele fez ao nosso lado será lembrado, relembrado e celebrado para o resto das nossas vidas. </span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Um abraço Lukinhas. Garantirei que milhõe de brindes venham em sua homenagem. Nos vemos um dia, quando espero ouvi-lo me chamando de Guarapas. <span style="mso-spacerun: yes"> </span></span></p><p style="MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes">Do seu amigo Alexandre Abramo.</span></span></p>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-40819307534884328022010-03-01T15:56:00.003-03:002010-03-01T16:02:08.208-03:00Julio e o carnavalEste texto é uma ode aos amigos bêbados. É uma história de ficção, portanto, qualquer semelhança com a realidade terá sido mero acaso. Ninguém seria capaz de fazer tudo isso sozinho, por isso reuni tudo num personagem só. Boa diversão.<br /><br />Mais uma manhã quente. Aliás, a vida de Dr. Neira é tão arrastada, que ele sente como se estivesse no calor do verão carioca 24 horas. Pela quinta vez em dois dias ele pensa que vale gastar o dinheiro para trocar o climatizador que só ventila por um ar-condicionado de verdade. O telefone toca:<br /><br />_ Dr. Neira, cliente novo está aguardando.<br /><br />_ Mande entrar.<br /><br />Entra na sala um homem de mais ou menos 25 anos, aparentemente recatado.<br /><br />_ Bom dia, você é o Julio, certo?<br /><br />_ Isso.<br /><br />_ Bem vindo Julio, meu nome é Dr. Neira, queria que você me dissesse o que te trouxe aqui.<br /><br />_ Bem, Dr., o que me trouxe aqui, na verdade, foi a insistência dos meus amigos.<br /><br />_ Taí um motivo novo. Por favor, continue.<br /><br />_ Então Dr., eu sou um sujeito pacato, do bem, tranqüilo, quase todo mundo gosta de mim, mas eu tenho um problema sério.<br /><br />_ Todo mundo tem.<br /><br />_ Quando eu bebo, eu viro outra pessoa.<br /><br />_ Alcoolismo?<br /><br />_ Não, isso é o que é mais interessante. Eu não sinto vontade extrema de beber, não me embebedo rápido, nem nada. Só gosto de beber. E quando eu bebo, eu bebo muito.<br /><br />_ Até ai tudo bem. Temos um problema relativamente fácil de tratar.<br /><br />_ Era isso o que todo mundo pensava Dr., mas eu extrapolei todos os limites nesse carnaval, por isso meus amigos me trouxeram aqui.<br /><br />_ Essa pergunta que vou lhe fazer não é profissional, ok? Interprete como curiosidade. O que diabos você fez para que seus amigos, que imagino não serem muito diferentes de você, terem te trazido aqui?<br /><br />_ Bem, eu comecei bebendo a tequila do meu amigo João Claudio e a partir daí meu carnaval é uma sucessão de flashes, precisei da ajuda dos outros para remontá-lo. Pra começar, eu inaugurei o primeiro xixi de carnaval na mala do Paulo,... dentro dela.<br /><br />_ No primeiro dia? Que sacanagem hein!?<br /><br />_ Pior, o Paulo é o atual namorado da minha ex. Ele ficou boladasso.<br /><br />_ Boladasso?<br /><br />_ É, ficou puto mesmo. Mas ele não entendeu que não foi porque era a mala dele. Eu fiz xixi nela porque era a única que estava aberta. Que bêbado eu seria se fizesse xixi numa mala fechada?<br /><br />_ Você tem razão. Em frente, a história é boa.<br /><br />_ Dizem que ele queria me bater, mas até ai meus colegas estavam pacientes e seguraram o cara, que é novato na turma. Em seguida, eu fui para a rua e comecei a sacanear as pessoas que passavam e fiz amizade com o pessoal das barraquinhas montadas em frente à nossa casa. Ai passou um daqueles cariocas que vêem pro carnaval em Minas e ficam de sunga e tênis o carnaval inteiro, sabe?<br /><br />_ Sei, tenho muita preguiça desses.<br /><br />_ Eu também. Aí que o primeiro que passou eu puxei a sunga dele.<br /><br />_ Você tá me sacaneando.<br /><br />_ Não, to falando sério. Puxei e fiquei falando assim: Vamos ver o tamanho do peru, vamos ver o tamanho do peru!<br /><br />_ Ele bateu em você.<br /><br />_ Não, Dr. O senhor acredita? Ele ficou tão desesperado em segurar a sunga e fugir de mim, que<br />nem pensou nisso. Ai os barraqueiros de frente da casa perceberam que eu fazia mal para os negócios deles. Um hipipe que fazia umas tatuagens com tinta de jenipapo mandou eu ir embora de lá. Eu falei que não saia, que ele fosse tomar ácido pra outro lado. Então ele mandou eu ir praquele lugar e eu falei que era pra ele ficar tranqüilo, que a minha presença ali garantia vantagens pra ele.<br /><br />_ Que vantagens?<br /><br />_ Pois é, falei que ele podia lavar as roupas dele na nossa casa.<br /><br />_ E o que os seus amigos acharam disso?<br /><br />_ Em primeiro momento nada, porque não ficaram sabendo, mas quando eles viram aquela hippie gorda lavando roupa no tanque da área da casa ficaram bem putos.<br /><br />_ Eles não expulsaram ela de lá?<br /><br />_ Não, ela falou que o Sr. Julio tinha dado autorização. E ai os barraqueiros viraram meus amigos. Tentava conseguir clientes para eles, tomei conta da barraquinha desse hippie por 30 minutos.<br /><br />_ Bêbado?<br /><br />_ Completamente Dr. Aliás, ele ficou meio chateado comigo.<br /><br />_ Porque?<br /><br />_ Porque eu vendi uma pulseira que valia 10 reais por 1.<br /><br />_ Ele mereceu.<br /><br />_ Concordo.<br /><br />_ Precisaram segurar ele pra ele não me bater. Mas tudo bem. Em seguida eu organizei um concurso de encher camisinha com o nariz.<br /><br />_ Como assim?<br /><br />_ Funciona assim, primeiro você dá uma alargada na camisinha com as mãos, depois você coloca a camisinha na cabeça até o final do nariz, acima da boca, então os competidores sopram com o nariz pra camisinha ir enchendo. O que conseguir encher mais sem estourar ganha.<br /><br />_ Deus do céu.<br /><br />_ É bem divertido, tirando que o lubrificante arde os olhos e a pele, além de deixar o cabelo nojento. Além disso você precisa dar sorte na hora de estourar, pra não machucar o rosto. Eu não venci. Mas fiquei com o olho e a pele ardendo.<br /><br />_ Acabou?<br /><br />_ Não. Meu esporte favorito era não deixar as pessoas dormirem. Isso me causou alguns transtornos. Principalmente quando eu resolvi contratar um mendigo pra acordar a galera em casa.<br /><br />_ Que bêbado escroto você é hein Julio.<br /><br />_ Não Dr., nessa hora eu estava sóbrio. Mas aí, no último dia deixei a galera dormir e, sorrateiramente, depois de empurrar a estante, fiz cocô na varanda.<br /><br />_ Como é?<br /><br />_ Isso mesmo.<br /><br />_ Mas porque você empurrou a estante?<br /><br />_ Pelo mesmo motivo que fiz cocô na varanda, estava bêbado.<br /><br />_ Acho que foi o lugar mais estranho que eu já ouvi alguém dizer que fez cocô.<br /><br />_ Na gaveta.<br /><br />_ O que?<br /><br />_ Teve uma vez que eu fiz cocô dentro da gaveta.<br /><br />_ Você é bizarro.<br /><br />_ Pois é Dr. É por isso que eu estou aqui.<br /><br />_ Vem cá. Onde é que você passou carnaval?<br /><br />_ Em Diamantina.<br /><br />_ Você não tem nada Julio, pode ir pra casa.<br /><br />_ Como assim Dr.?<br /><br />_ Você passou carnaval em Diamantina, se não existissem pessoas sem noção como você o carnaval de Diamantina não existiria. Você não precisa de mim Julio, precisa de amigos novos, todo carnaval.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-34468960462872653682010-01-23T10:20:00.001-02:002010-01-23T10:22:50.213-02:00OrlandoTentando encerrar uma quinta-feira terrivelmente depressiva e quente, Dr. Neira recebe o paciente Orlando.<br /><br />_ Bom dia Dr. Neira, podemos cortar logo o papo e finalizar a consulta um pouco mais cedo? Tenho duas reuniões importantes hoje. Estou de extremo bom humor, consegui fazer sete reuniões ontem, tomar cinco decisões fundamentais para a sustentabilidade do negócio e ainda sobrou tempo para jogar tênis com o diretor financeiro da Imbisa, aquela empresa de biomedicina que falei para o senhor.<br /><br />_ Bom dia Orlando, fico feliz que alguém esteja fazendo algo de útil com o seu tempo nesse mundo.<br /><br />Silêncio impera no consultório por trinta segundos, Orlando olha para trás e tenta encontrar os olhos do Dr. Neira.<br /><br />_ Espera ai Dr. Neira, esse não era o momento de dizer que aqui não era lugar para tratarmos dos negócios que eu faço, mas sim do que importa de verdade na minha vida? O que está acontecendo aqui? Estou sentindo aquele clima de reunião de resultados quando um gerente de vendas acha que a vida terminou porque não atingiu a meta do mês.<br /><br />_ É, estou me sentindo meio assim, com a diferença de que nunca fui gerente de nada, nem da minha vida.<br /><br />_ Dr., pode se abrir comigo, contando que isso não tome mais do que 15 minutos, porque o senhor sabe, meu tempo é precioso e caro. O senhor sabia que se usarmos sapatos com cadarços todos os dias passaremos, durante toda a vida, nove dias amarrando os sapatos? Nove dias doutor. Em um dia eu consigo 1 milhão de lucro para a empresa, num dia ruim.<br /><br />_ Você é notável Orlando, acho que você não precisa da minha ajuda.<br /><br />_ Como assim não preciso Dr.?<br /><br />_ Você é um sujeito inteligente, produtivo, gera divisas para o país e para o estado, porque diabos eu deveria tratar você podendo reduzir sua produtividade?<br /><br />_ O senhor costuma dizer que faz isso para que eu não morra cedo, porque minha saúde fica comprometida sendo tão intenso.<br /><br />_ Mas isso não faz diferença Orlando, você é produtivo, se precisar morrer aos 55 para ser produtivo desse jeito, que seja. Afinal de contas, sua produtividade só vai cair quando passar dos 55.<br /><br />_ Mas eu não quero morrer Dr. Neira, não quero morrer cedo. Por isso gasto essa baba de dinheiro com o senhor.<br /><br />_ Não seja cara de pau Orlando, o que você paga nas nossas consultas não é o seu gasto mensal com material de escritório.<br /><br />_ Isso é verdade, mas não vem ao caso, material de escritório de executivo é coisa cara, quanto o senhor acha que vale essa caneta? Um mês do seu trabalho, um mês.<br /><br />_ Ótima referência, é o que o meu trabalho vale, uma caneta por mês.<br /><br />_ Dr., o senhor precisa de um psiquiatra.<br /><br />_ Ninguém precisa de psiquiatra Orlando, eu preciso é de um remédio, ou quem sabe de um tiro?<br /><br />_ O Remédio é mais barato Dr., o senhor sabe quanto pagamos para matarem aquele gerente de logística da concorrência lá no Pará? É caríssimo, se precisar parecer acidental então, é o dobro.<br /><br />_ Você faria o favor de pagar para me matar?<br /><br />_ Desculpe Dr. Neira, amigos, amigos, dinheiro a parte. É mais barato esperar o senhor definhar e se matar, me desculpe, pode ser cruel, mas é a lógica. Percebe? Acabei de economizar cerca de 20 mil reais do meu próprio dinheiro. O resultado efetivo é a sua derrocada moral e um possível desfecho trágico para a família, mas isso só terá me custado os 80 reais dessa consulta.<br /><br />_ Peraí Orlando, você está pagando a consulta pelo plano de saúde? Não tínhamos combinado que você viria pelo particular? Assim eu arranjaria esses horários impróprios que você pede?<br /><br />_ Desculpe Dr., redução de custos.<br /><br />_ Você não presta Orlando.<br /><br />_ Por isso eu dou resultados, Dr., se prestasse estaria pobre, usando essas calças engraçadas e pedindo para os outros me matarem.<br /><br />_ Você está ficando insolente além de mão de vaca.<br /><br />_ É o momento derradeiro Dr., quando nós discutimos, você diz que minha hora acabou e eu volto para o mundo cruel parar fazer a única coisa que sei fazer na vida, dar lucro.<br /><br />_ Você deveria praticar mais tênis, você também sabe fazer isso.<br /><br />_ Não sei não senhor. Pago para os outros jogarem comigo, profissionais.<br /><br />_ Mas qual o sentido? Isso não dá lucro.<br /><br />_ Se o senhor coubesse quantos contratos consegui numa quadra de tênis não diria isso.<br /><br />_ Tudo bem Orlando, sua hora acabou.<br /><br />_ Obrigado Dr., fique aqui com meu cartão. Se estiver pensando mesmo em se matar, ligue para a minha secretária, ela tem uns contatos e te dará acesso àquele prédio da empresa da concorrência, sabe aquele alto? Na avenida Flores?<br /><br />_ Sei, mas pra que?<br /><br />_ O senhor pula lá de cima, além de ser uma morte certa, ainda vai dar problema pra eles. Imagina só explicar para um cliente o que é aquele sujeito em formato de pizza na calçada?<br /><br />_ Certo Orlando, nos vemos semana que vem.<br /><br />_ Nos vemos Dr.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-46155829450883884442010-01-23T10:19:00.001-02:002010-01-23T10:24:30.143-02:00Diane_ Bom dia Dr. Neira.<br /><br />_ Bom dia dona Daiane, vamos entrar?<br /><br />_ Muito agradecida pela gentileza.<br /><br />_ Pode recostar-se no divã, fique à vontade.<br /><br />_ Dr. Neira, preciso que o senhor converse comigo, não aquela coisa que o senhor costuma fazer de ficar calado para ver como eu vou reagir, preciso que o senhor converse comigo, tudo bem?<br /><br />_ Sou todo ouvidos dona Daiane.<br /><br />_ Pois bem, eu não suporto mais o meu filho?<br /><br />_ Mas porque dona Daiane, o filho da senhora não é um homem bem sucedido e bom filho?<br /><br />_ Era Dr. Neira, era. Virou um sujeito cheio de empáfia, cheio de si e mal resolvido. Veja que nem mesmo a mãe ele chama mais de mãe.<br /><br />_ E como ele se refere à senhora?<br /><br />_ Pelo meu nome.<br /><br />_ E qual é o problema que a senhora tem com o seu nome.<br /><br />_ Nenhum, mas quero que meu filho me chame de mãe.<br /><br />_ Acho que a senhora exige muito dele. A opção por escolher como chamar a mãe é do filho e não<br />o contrário<br /><br />_ Roberval, não me tire do sério.<br /><br />_ Não me chama de Roberval, mãe.<br /><br />_ Aaaaaah, agora sou sua mãe né, antes era dona Daiane.<br /><br />_ Você sabe que Roberval não é um nome que caia bem pra minha vida profissional<br /><br />_ E dona Daiane não é um que cai bem na minha.<br /><br />_ Mas você é dona de casa.<br /><br />_ Então, dona de casa que não é mãe é empregada.<br /><br />_ A senhora não me deixa alternativas, vou repassar o seu horário para alguém que precise de verdade.<br /><br />_ Meu filho, ninguém precisa de verdade de um psiquiatra<br /><br />_ Isso é o que a senhora pensa. Quem curou sua mania por tomar remédios?<br /><br />_ Um remédio, é claro!<br /><br />_ Que remédio?<br /><br />_ Aquele que você me receitou, Finasterida.<br /><br />_ Mãe, aquele remédio é pra queda de cabelo. O papai tomava.<br /><br />_ ... você está brincando.<br /><br />_ Seríssimo.<br /><br />_ Desnaturado. Me receita um remédio de verdade.<br /><br />_ Antes a senhora vai ter que me chamar de Dr. Neira.<br /><br />_ Dr. Neira, Dr. Neira, ainda usa o nome daquele inútil do seu pai.<br /><br />_ Você queria que eu chamasse como? Dr. Andrógena? Esse sobrenome infeliz que o vovô deixou?<br /><br />_ Dr. Roberval Andrógena Neira, um nome muito bonito, sim senhor.<br />Dr. Neira dá uma gargalhada gutural<br /><br />_ Está rindo do que menino?<br /><br />_ De nada. Só me lembrei de um paciente.<br /><br />_ O que tem ele?<br /><br />_ Sigilo profissional, não posso contar que ele colocou nome de feriados nacionais em todos os filhos.<br /><br />_ Você só pode estar brincando.<br /><br />_ É sério.<br /><br />_ Eu sei que é sério, você só pode estar brincando que o Natanael é seu paciente.<br /><br />_ É sim, conhece?<br /><br />_ Foi meu primeiro namorado. Ele escolheu comigo o nome do nosso possível primeiro filho<br /><br />_ Que nome era?<br /><br />_ Roberval.<br /><br />_ Você me deu o nome que escolheu com seu ex-namorado?<br /><br />_ O bundão do seu pai não quis escolher um.<br /><br />_ E porque a senhora não me deu um nome normal? De algum apóstolo, evangelista, anjo, santo... sei lá, Daniel, Rafael, Gabriel, Tiago, Pedro, Paulo, Francisco.. qualquer coisa que a bíblia pudesse te inspirar?<br /><br />_ Aminadabe.<br /><br />_ O que?<br /><br />_ Aminadabe.<br /><br />_ Que isso, uma proteína?<br /><br />_ Minha segunda opção de nome pra você.<br /><br />_ De onde veio isso?<br /><br />_ É um personagem bíblico, do velho testamento, em hebraico quer dizer “o meu povo é nobre”.<br /><br />_ E o que quer dizer Roberval?<br /><br />_ É a aglutinação dos nomes Roberto e Valéria, tem origem teutônica<br /><br />_ Mas a senhora chama Daiane e o pai chama José Augusto<br /><br />_ Minha hora acabou Dr. Neira<br /><br />_ Vai me explicar isso mãe?<br /><br />_ Passar bem Dr. Neira, passar bem.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-50011881895891455302009-10-28T21:11:00.003-02:002009-10-28T21:12:55.565-02:00NatanaelSessão mensal, Dr. Neira conversa há 45 minutos com Natanael, um dos 4 hipocondríacos.<br /><br />_ E ai Dr. Neira, eu comecei a ver aquela luz forte, cegando uma parte da minha vista esquerda, e uma dor intensa acompanhando, eu tenho certeza que era um problema nos ligamentos suspensores do cristalino. O tipo de dor é característico.<br /><br />_ Natanael, essa é sua sessão de psicoterapia, eu sou seu psiquiatra, não seu oftalmologista.<br /><br />_ Mas Dr., o senhor vai entender que, no final, está tudo interligado.<br /><br />_ Continue.<br /><br />_ E aquela dor tremenda Dr., tudo o que eu conseguia lembrar era da televisão, aquele programa do Picachu que meu filho estava assistindo. O senhor ficou sabendo que crianças japonesas morreram assistindo aquilo, né doutor?<br /><br />_ Só as crianças epilépticas, Natanael. E elas não morreram, o desenho as induziu a uma crise, por causa das luzes.<br /><br />_ Exatamente, por causa das luzes, foi o que eu disse. As luzes devem ter deslocado meus ligamentos suspensores...<br /><br />_ Natanael, as luzes não têm força para deslocar seus ligamentos suspensores<br /><br />_ Peraí, o senhor não disse que era meu psiquiatra e não meu oftalmologista, o que o senhor sabe sobre ligamentos suspensores?<br />Dr. Neira se cala e olha para o teto do consultório, suplicando a Deus por uma morte rápida<br /><br />_ Continue Natanael.<br /><br />_ Pois então, eu acho que estou, na realidade, somatizando a minha relação ruim que tenho com meu filho menor, o Natal.<br /><br />_ Talvez seja a primeira coisa sensata que você tenha dito hoje, seu filho se chama Natal?<br /><br />_ Isso doutor.<br /><br />_ Não basta sua mãe ter feito a sacanagem de colocar seu nome de Natanael você faz isso com o garoto? Quer o que? Que ele fique feliz pelo pai que você é?<br />Natanael fica boquiaberto, consternado com a frase do Dr. Neira<br /><br />_ Porra doutor, ai o senhor esculachou.<br /><br />_ Eu perdi a paciência Natanael, não entendo porque você continua gastando o seu dinheiro para vir aqui, não sei por que diabos você fica assistindo desenho do Picachu com o seu filho e o pior de tudo, não consigo entender como você teve a coragem de colocar o nome do seu filho de Natal, tem 40 anos que ninguém coloca esse nome em ninguém.<br /><br />_ Não fui eu que escolhi.<br /><br />_ Quem foi então? Sua esposa?<br /><br />_ Não, meu filho maior, o Pascoal.<br /><br />_ Puta merda Natanael, puta merda! Seus filhos todos têm nome de feriado religioso? Tem a Nossa Senhora Aparecida também?<br /><br />_ Não, tem a Maria Aparecida e tem o Tiradentes.<br /><br />_ A escolha é igualmente infeliz, mas pelo menos é um nome de feriado não religioso.<br /><br />_ Não quero mais vir aqui, o senhor não tem o menor senso de ética profissional.<br /><br />_ Pode até ser, mas meu filho chama Claudio e minha filha Mariana, e eu sou normal.<br /><br />_ Olha doutor, eu posso ser maluco, mas o senhor também não é normal não.<br /><br />_ Me dê um motivo.<br /><br />_ Essa calça que o senhor usa.<br /><br />_ Qual o problema? Comprei na Índia, está na moda.<br /><br />_ Mas parece que o senhor passa o dia cagado.<br /><br />_ Natanael, seu tempo acabou, até semana que vem.<br /><br />_ Até lá doutor.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-12828861962746531102009-10-28T21:10:00.001-02:002009-10-28T21:11:32.017-02:00NeideO telefone toca. Sorumbático, Dr. Neira olha o número do telefone. Número privado. Muitas coisas incomodam Dr. Neira profundamente, mas apenas duas ele odeia: banana caramelada e número privado.<br /><br />_ Dr. Neira?<br /><br />_ Isso.<br /><br />_ Eu me decidi, vou tomar quimioterapia<br /><br />_ Neide?<br /><br />_ Claro, que outro paciente no meu estado você tem?<br /><br />_ Três, tenho três.<br /><br />_ Pois então, estou decidida!<br /><br />_ Neide, nós já conversamos sobre isso, você tem uma tendinite crônica na perna, você não<br />precisa de quimioterapia.<br /><br />_ O senhor está errado, eu tenho câncer.<br /><br />_ Neide, se você já decidiu porque me ligou?<br /><br />_ Porque o senhor é o responsável pela minha saúde.<br /><br />_ Responsável pelo que eu receito, certo?<br /><br />_ Não senhor, eu vou tomar quimioterapia e se alguma coisa me acontecer você é o responsável.<br /><br />_ Mas Neide, eu sou seu psiquiatra, não posso te receitar sessões de quimioterapia.<br /><br />_ Pois não vai precisar, eu já arranjei tudo, comprei lá no centro o produto e as seringas.<br /><br />_ Neide, você está maluca? Isso não é produto que se ache no centro, é remédio controlado.<br /><br />_ O senhor não tem noção das coisas que podemos achar no centro.<br /><br />_ Você precisa de acompanhamento médico pra tomar quimioterapia.<br /><br />_ Por isso liguei pro senhor.<br /><br />_ Pois esqueça, o máximo que você vai ter é a minha solidariedade à sua família depois do enterro.<br /><br />_ Credo Dr., o senhor anda tão mórbido.<br /><br />_ Tem jeito de ser diferente com você Neide?<br /><br />_ Tem, com carinho e jeito eu costumo ceder.<br /><br />_ Eu já desisti.<br />Alguns segundos se passam e Neide abranda a voz.<br /><br />_ Dr. Neira, o que o senhor acha que eu deveria tomar para curar meu câncer?<br /><br />_ Posso ser honesto Neide?<br /><br />_ Pode!<br /><br />_ Vai tomar no seu cu.<br />(barulho de telefone desligado)<br />Trinta segundos se passam com Neide pensativa.<br /><br />_ É, agora ele apelou mesmo...<br />Neide tira o telefone da orelha e grita para dentro do quarto:<br /><br />_ Benhê, pega o telefone do Dr. Claudio!?Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-61686055214278918352009-10-28T21:06:00.001-02:002009-10-28T21:10:06.718-02:00Doutor NeiraDr. Neira é um psiquiatra sem muita motivação nem convicção no que faz. Ele era clínico geral, se especializou em cirurgia plástica, mas descobriu um grande filão atendendo gente estranha.<br /><br />Foi casado, mas a mulher abandonou a casa e hoje luta na justiça por uma pensão monstruosa. Tem um casal de filhos que moram com a mulher. Te mais coisas na lista do que não gosta do que gosta. No último ano perdeu a paciência com as coisas da vida e ficou agressivo.<br /><br />Com vocês:<br />Dr. Neira<br /><br />Era uma tarde de domingo, depois do campeonato brasileiro recomeçou o Fasutão. Rodada sem graça. No “se vira nos 30”, um picher vestido de bailarina não quis fazer o número, apesar de todos os esforços do adestrador cearense.<br /><br />E ele ali, sentado no sofá, o sol quente, a sala abafada,... O telefone celular reservado para atender aos pacientes toca. Ele já sabe, a essa hora de domingo ou morreu alguém ou é um dos 4 hipocondríacos. Dr. Neira conhece os seus pacientes. Os 4 hipocondríacos, nome carinhosos que ele deu para Jorge, Daiane, Natanael e Neide.<br /><br />_ Dr. Neira, agora é sério, eu estou infectado.<br />Era o Jorge.<br /><br />_ Calma Jorge, o que aconteceu?<br /><br />_ Eu pisei na linha antes de tomar água.<br /><br />_ E?<br /><br />_ Como assim: E? Como assim? O senhor sabe muito bem o que esse tipo de deslize pode causar.<br /><br />_ Não Jorge, eu já te expliquei, não vai acontecer nada!<br /><br />_ Mas Dr. Neira, o senhor não está me entendendo, eu não só pisei na linha, como pisei na linha da cozinha, que o senhor sabe, é mais complicada, e ai tomei a água em seguida. Não acredito até agora que fiz isso. Estou sentindo minhas pernas arquearem.<br /><br />_ Jorge, se controle, você tomou o seu floral hoje?<br /><br />_ Floral o escambau Dr. Neira já disse pro senhor que eu quero medicamento pesado, aqueles pra dormir, que dão alucinação, quero coisa sossega Leão, compreende? Olha só, não estou sentindo minha perna esquerda, irradiou pras costas Dr., eu vou morrer, agora já era.<br /><br />_ Jorge, já te expliquei que sua patologia é psicológica, nada físico pode acontecer, a menos que você mesmo cause isso.<br /><br />_ Então Dr., eu mesmo causei, eu pisei na linha e bebi a água em seguida. Devia ter anulado pisando com a outra perna, mas não fiz. Minha espinha gelou Dr., agora já era, estou nos meus últimos instantes de vida e conversando com o senhor, devia ter ficado pra assistir aquele picher bonitinho dançar no Faustão.<br /><br />_ Ele não dançou!<br /><br />_ Como assim não dançou?<br /><br />_ Não sei, acho que ficou com medo da platéia, ficou lá tremendo e não dançou.<br /><br />_ Sério mesmo Dr.?<br /><br />_ Sério.<br /><br />_ Que sacanagem, achei que aquele cearense ia levar.<br /><br />_ Pois é.<br /><br />_ Estou me sentindo melhor Dr., acho que meus anticorpos agiram contra os invasores, eu estou sentindo minha perna esquerda de novo, não que ela mexa, mas estou sentindo.<br /><br />_ Isso é bom Jorge.<br /><br />_ É sim, me sinto bem melhor Dr.<br /><br />_ Então, aprendemos alguma lição hoje?<br /><br />_ ...Acho que sim Dr.<br /><br />_ E quais foram elas.<br /><br />_ Bom, primeiro não pisar na linha antes de tomar água...<br /><br />_ Meu Deus.<br /><br />_ Depois que, se pisar na linha com uma perna, pise com a outra pra anular, depois tome a água. Por último, nunca coloque saia num pincher macho e leve ele pra dançar em público.<br /><br />_ Jorge, boa tarde, eu vou desligar, daqui a pouco tem fantástico.<br /><br />_ OK Dr. Obrigado pela ajuda. Amanhã nos falamos.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-42729961729578046002009-08-03T09:18:00.001-03:002009-08-03T09:24:36.166-03:00O novo Rei do Pop<span style="font-family:trebuchet ms;">Passeando ontem pela folha on line me deparei com uma notícia curiosa:</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">“Kanye West garante, eu sou o novo rei do pop”.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O rapper americano disse que, após a morte de Michael Jackson, não há "ninguém melhor do que ele" para assumir o posto deixado pelo metade aberração metade celebriadde.<br />Veja as declarações. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">"Não há ninguém que possa se igualar a mim em termos de vendas e, por conta disso, só faz sentido que eu assuma a coroa e me torne o novo rei. Primeiro foi Elvis, depois Michael e agora, no século 21, é a hora de Kanye. Eu tenho muito respeito por Michael, mas alguém precisa assumir o que ele deixou e não há ninguém melhor do que eu para fazer isso. Eu sou o novo rei do pop”. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Em entrevista anterior:<br />"Eu percebi que meu lugar na história é o de que me tornarei a voz dessa geração, dessa década. Eu serei a voz mais alta".</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A voz de uma geração. Nisso talvez ele tenha razão. A voz de uma geração insossa, sem graça e sem rumo, sem ídolos e, em contrapartida, cheia de ídolos, todos, com raríssimas exceções, breves.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Kanye West é a voz da minha geração. Deixo para ele esse posto, que podia ser de qualquer imbecil. Vi coisas bem mais interessantes do que ele surgirem nos anos 90, mas ninguém com tanto... com tanto tato, digamos. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Kanye West é a voz da minha geração, a minha geração que precisou ouvir dos irmãos Liam e Noel Galagher, do Oasis, que eram melhores que os Beatles e mais populares que Jesus, não necessariamente nessa mesma ordem.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Kanye West é a voz da minha geração. A geração que viu nascerem e morrerem góticos, grunges, metaleiros, clubbers e vê os emos, tadinhos, no seu auge, mas morrerão também.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Cure, hoje, é peça de museu, o Pearl Jam virou a banda de pregadores no deserto, o Iron Maiden só faz sucesso no Brasil, com fãs do meu tipo, saudosistas, não sei por onde anda o Prodigy e deixa o NXO chorar, o tempo deles também é curto.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Os grandes movimentos musicais das décadas de oitenta e noventa foram importantes e marcaram seu tempo com muita pujança (na minha opinião, principalmente na década de 90). Entretanto, deixaram uma lacuna a ser preenchida. Num mundo de velocidade, múltiplas possibilidades e descentralizado, reis como Michael Jackson e Elvis Presley têm mais e menos espaço, ao mesmo tempo. Me explico.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando meu pai ia à casa de um colega recém chegado do estrangeiro, se juntar a outros 15 aficcionados para ouvir o último LP lançado pelo Yes, a relação que eles tinham com a música era uma. Era de descoberta e reverência. Porque não existia acesso a diversos discos da mesma estirpe. Meu pai, hoje, sofre com isso. Toda a semana em que vai à sua loja tradicional de cd´s, fica perdido sobre que banda de rock progressivo ele vai comprar o cd agora. Me atrevo a dizer que meu pai deve ser o maior especialista em progressivo italiano e japonês em Belo Horizonte. Talvez o único.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">As opções se desdobram e derramam as estantes das lojas. E isso para o meu pai, que é um cara que ainda prefere comprar o disco e ter o encarte, porque “mp3 estraga a qualidade da música”. Já eu, que tenho acesso ao acervo mundial de música chamado internet, me sinto perdido entre tantas opções. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Já ouvi de tudo um pouco. Gostei de várias coisas, mas não consegui ficar fã de nada. Escuto, gosto, adoro, ouço muito, mas não me sinto fã de Little Joy ou de Strokes ao ponto de atravessar dois estados para assistir a um show, como já fiz outras vezes, no passado sem internet, reverenciar os ídolos do meu pai.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Essa é a geração de Kanye West. Musicalmente, estilisticamente, estupidamente uma bosta. Mas se ele quer ser o rei do Pop, que seja. Eu vou procurar aquelas coisas estranhas, de arrepiar a espinha, que marcam o seu tempo. Porque acredito que Michael Jackson foi o último homem do pop capaz de abalar as estruturas do mundo da música e fazer o que o mundo alternativo faz pela música. Revolucioná-la. O que vier a partir de agora vai ser pop sucesso instantâneo, fracasso em 1 ano ou seu dinheiro de volta. Revolução é coisa pensada por poucos mas viabilizada por multidões. E quem leva as multidões hoje está muito distante de querer qualquer tipo de revolução. </span>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-5740725857407703482009-07-23T10:07:00.002-03:002009-07-23T10:10:47.408-03:00Minha profissão: O intangível<p><span style="font-family:trebuchet ms;">Tenho 26 anos e já rodei um bocado no tal do mercado de trabalho. Passei por diversas empresas trabalhando com a intangibilidade. Esse treco complicado, que pouca gente sabe explicar o que é. Aquilo que não se vê, que não se toca, mas que sabemos ser importante e determinante na relação das pessoas. </span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Hoje, morando sozinho no interior, me dei ao luxo de pensar, por um tempo, enquanto arrumava minha casa, aonde começou a minha história com o intangível.<br />Não foi muito difícil chegar lá. Estudei no Colégio Loyola, formação jesuíta, cheia de valores, deveres e um bocado de intangibilidade. </span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Na escola, o intangível começava pelas minhas aulas de Química e Matemática. Coisa distante aquelas aulas. Não pelos professores, neles a minha relação era muito próxima e sadia, mas as disciplinas... Acho engraçado chamarem as matérias que estudamos de disciplinas. Acho muito adequado. Deve ser porque só aprende direito quem tem disciplina. Eu não tinha.</span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu gostava de aprender o que estava por trás de cada história. Quando um professor de física explicava alguma coisa, não queria aprender o que ele escrevia no quadro, queria saber quem era aquele professor, quais eram suas agonias, suas tristezas, seus anseios, suas realizações, alegrias. Esse desejo de me relacionar me levou a viver as atividades espirituais que a escola oferecia. Isso ajudou a formar o meu caráter, meu jeito de enxergar as coisas e...<br />voilà, escolher minha profissão: gestor do intangível.</span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Hoje é fácil dizer que acertei na mosca. Minha carreira se desenvolveu, tenho ido relativamente bem, e isso me enche de orgulho. Mas ainda não sei direito explicar o que eu faço. Sou pago para gerir o que as empresas sabem que existe, mas não têm certeza de como tratar. Afinal, opiniões, posições, discussões, podem ser postas numa planilha, mas isso, inevitavelmente, terá pouca efetividade. </span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">As empresas me contratam porque o intangível não se aprende na faculdade. Esse tipo de coisa se estabelece a partir da sua relação com as pessoas e com o mundo. Desenvolvem-se métodos, métricas, fórmulas e DISCIPLINAS sobre o assunto. Mas o intangível é maior. Ele não cabe num pote, nem numa sala de aula, ele extrapola. Ele vai além. </span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Essa forma de enxergar o mundo me permitiu uma profissão e uma relação muito especial com Deus.</span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Você, caro leitor, deve achar que escrevi tudo isso para chegar ao final dizendo que a relação com Deus é intangível, um clichê sem tamanho. Mas se enganou. Intangível é a fé. É o que nos move a nos relacionar com Deus. A relação, em si, esta é tangibilíssima. Ela está aqui, no meu coração, eu a toco todos os dias, todas as horas, minutos e segundos. Vejo o amor de Deus em todas as coisas. Isso pode ser tocado, mas não pode ser medido. </span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">E estou eu de volta ao princípio. </span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">Te disse que intangibilidade era um treco complicado!</span></p>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-18780756414935559282009-02-06T20:32:00.001-02:002009-02-06T20:33:14.439-02:00A nova ordem mundial, a Bolívia e o LítioExiste uma nova ordem mundial.<br /><br />A frase parece batida, eu sei, mas existe.<br /><br />Ninguém sabe que ordem é essa. Ninguém sabe pra que lado o mundo vai. O que sabemos é que as coisas não serão mais como eram há dez anos atrás. Nesta nova ordem, não adianta fingir que não há aquecimento global, que Hugo Chávez e Evo Morales não existem. Eles existem sim. Um detém largo poder através do petróleo, o outro tem duas forças latentes em suas terras: gás natural e uma ainda pouco conhecida, mas igualmente fundamental, ou mais: o lítio.<br /><br />Entre as montanhas e altiplanos com plantações de coca da Bolívia, existe alguém com uma das linhas do destino do planeta em suas mãos, e ele não pretende facilitar as coisas.<br /><br />Evo Morales é uma lembrança viva em minha mente. Quando estive na Bolívia em 2002, Morales perdia a eleição presidencial para el estrangero Goni, o que motivou a comunidade indígena a fechar as estradas e trilhos de trem em protesto. Evo quase havia sido eleito em primeiro turno e perdera o segundo, no congresso, para Goni. Por isso ficamos dois dias em Santa Cruz de La Sierra sem opções de voltarmos para casa.<br /><br />Ele é um ldier cocaleiro nato. Longe de ter o país unificado nas mãos, mas com esmagadora maioria de pobres e paupérrimos ao seu lado. Assim como Chávez.<br /><br />As pessoas não imaginam. As baterias de íon-lítio de carros híbridos e elétricos, teoricamente o futuro da indústria automobilística, necessitam mais da Bolívia que nós, brasileiros, podemos pensar. Mais da METADE de toda a reserva de lítio do mundo está no Salar de Uyuni, na Bolívia. Quando li essa notícia nesta semana tomei um susto.<br /><br />Trabalhando na Fiat eu sei que este é um caminho que a maioria das empresas está trilhando. Carros sustentáveis. O Brasil ainda insiste no álcool e não duvido que essa seja a solução tupiniquim para o problema do combustível.<br /><br />Entretanto, o resto do mundo vai em direção aos carros elétricos. Alguém aqui imagina o que aconteceria se metade das reservas do que faz os carros andarem ficasse debaixo da saia de Evo?<br /><br />Acredito que problemas como a falta de abastecimento de gás pela Rússia seria fichinha. Os árabes queimando poços de petróleo então...<br /><br />Há um novo Oriente Médio se erguendo na América Latina e, se ele souber se aproveitar disso fugindo de bravatas e focando em lucrar com o que tem, a Bolívia pode se tornar, em médio prazo, os novos Emirados Árabes do mundo.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-18085843229564805102008-11-11T21:42:00.005-02:002008-11-11T21:55:02.200-02:00Um até mais pro meu avô Boris<span class="Apple-style-span" style="border-collapse: collapse; font-family:arial;font-size:13px;"><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: bold;font-size:13px;"></span></p><p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Já comecei este texto seis vezes. Na hora em que as letras vão se aglomerando e os sentimentos transbordando do peito no papel eu sempre acho que não ficou à altura dele. Do meu avô. Do meu querido avô Boris.</span></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">No dia 20 de julho, depois da rodada do campeonato brasileiro, meu avô teve um infarto fulminante e morreu. Meu avô sempre foi um homem das festas, da conversa alta, das piadas e das risadas. Ele não tolerava lenga-lenga. Com ele era tudo preto no branco, botafoguense dos tempos áureos que era, não poderia ser diferente.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Para o meu avô, a gente tinha que estudar e trabalhar em todas as oportunidades que aparecessem. Foi o que ele fez na vida. Se aposentou como diretor da câmara municipal de Belo Horizonte. Lá ele cresceu por conta própria, Sem precisar de politicagem para vencer na vida. Foi advogado trabalhista de grandes empresas ao mesmo tempo.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Em uma das que trabalhou, ficou um tempo atuando de graça, em respeito aos donos quando a empresa estava quebrando. Até hoje devem mais de 200 mil para o meu avô.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Jogou futebol pelo aspirante do América, dizem que ele era ótimo. Ele ajudou a família em tudo. Pagou minha faculdade para dar uma folga para minha mãe e meu pai. Quando viajava, levava todo mundo, a família inteira, sem deixar ninguém de fora.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Ele era um aglomerador, um chefe de família à moda antiga. Mas, além disso tudo, meu avô era um exemplo de honestidade. Ele sabia que isso dificultava muita coisa na vida, mas sempre achou que o preço valia a pena ser pago. Aliás, ele sempre teve medo do exemplo que tinha sido. Dizia que eu devia ter mais maldade nas coisas, que eu acreditava que todo mundo era bom e direito, mas que o mundo não era assim.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Meu avô cantava com uma voz poderosa. Aprendeu a tocar piano depois dos sessenta anos. Adorava ver filmes e tinha duas televisões na sala para poder ver a novela e acompanhar o futebol ao mesmo tempo.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Quando eu estava quase tomando bomba no segundo ano do Loyola, meu avô me chamou e disse assim: "Meu filho, faça o seu melhor, mas não tenha medo de repetir um ano. Eu repeti dois e me tornei quem eu sou. Suas notas não vão nunca dizer quem você, de fato, é"</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Ele descia todas as manhãs para a banca do Jacaré. Passava lá umas duas horas conversando com a turma da rua e colocando o papo em dia. Quando o estacionamento do Geraldo ainda existia do lado de casa, a outra hora da manhã era lá.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Quando meu avô ganhou 80 mil na loteria esportiva, acertando na mosca a derrota do Barcelona de Rivaldo para o Espanyol, lanterna do campeonato espanhol, ele deu dinheiro para as empregadas, para o lavador do carro, para os filhos, para os netos. Pegou minha avó, minha mãe e meu pai e passaram 32 dias na Europa dormindo nos melhores hotéis e comendo nos melhores restaurantes. Meu avô sabia que gastar dinheiro com quem você ama é um prazer sem limites.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Meu avô me apoiou quando fui trabalhar nos Estados Unidos. Ele ajudava minha avó a selecionar as notícias que eu mais gostaria de ver nos jornais brasileiros e me mandava pelo correio.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Meu avô me apoiou até quando eu resolvi que iria estudar jornalismo, essa profissão meio sem pé nem cabeça. Me apoiou quando eu fui para Três Marias trabalhar, quando eu voltei e fiquei na Gerdau, pertinho da casa dele, e economizava meus tickets comendo com ele e vovó.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Meu avô me ensinou a dirigir no Belvedere, naquele Santana verde que acabaram roubando na porta da minha casa. A decepção automobilística dele foi quando aposentaram o Opala. Meu avô teve vários. Um laranja hidramático, um diplomata que ele capotou e até saiu no jornal como um milagre ter saído alguém vivo daquele emaranhado de aço.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Meu avô teve que enterrar um filho. Meu tio Paulo Sérgio.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Quando ele faleceu, naquele domingo triste, eu fui junto à minha mãe e meu pai na funerária. Meu avô decidiu que queria ser cremado. Podia ser em qualquer caixa de madeira, ele brincava sempre.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Coube a mim escolher a frase que colocariam na coroa que vinha junto do pacote da funerária. Nessas horas a gente vê como a morte é uma coisa impessoal para algumas pessoas. Eram umas trinta mensagens do tipo "Nossas saudades eternas", "Os seus filhos, netos e irmãos te amarão para sempre", e por ai vai. Eu pedi uma caneta e escrevi assim: "Um homem de extremos que transbordou o amor, transformando-o em família".</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Na missa de sétimo dia, busquei forças no fundo do peito para cantar três músicas. Por último um pedido da minha avó, "Eu sei que vou te amar", do Vinícius. O Beto, sobrinho do meu avô, meu primo em segundo grau, tocou o teclado. Meu pai disse que eu nunca cantei como naquele dia. Minha irmã escreveu o texto mais bonito que eu já pus os olhos na vida. Eu tive que ler lá na frente, já que a Tati tinha acabado de ter o Augusto.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Foi triste, sim. Meu avô é muito querido pra mim. Marcou minha vida e me ensinou muita coisa. Mais do que normalmente as pessoas fazem. Meu avô não sabia ser mais ou menos. Ele era muito e tudo. Hoje minha família perdeu o seu muito e o seu tudo.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Eu estou tentando vô. Tentando superar a perda, tentando ser forte como você gostaria e me ensinou a ser. Eu sou o neto homem mais velho, eu sei. Mas tudo o que eu queria agora era deitar e chorar por uma semana inteira. Mas eu não posso. Tem uma família mal acostumada para ser cuidada. Por isso eu arrumei forças para cantar naquela missa e para falar no dia da sua cremação. Eu sei do meu papel e não vou fugir dele, mas que dói vô, isso dói.</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span></p><p><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: normal; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Agora ficam as lembranças e as lições, por mais clichê que essa frase possa soar. Uma pessoa como o meu avô é eterna. Tinha um filme que ele gostava bastante, Gladiador, que tem uma frase que não me saiu da cabeça até agora: "O que a gente faz em vida, ecoa pela eternidade". Eu vou garantir que ecoe.</span></span><br /></p><p></p></span>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-66710384109629599192008-06-17T00:39:00.001-03:002008-06-17T00:40:56.329-03:00O menino que tinha medo do novo.Enquanto o sol brilhava, não havia chatice que desfizesse o seu sorriso. Aquele menino, era de se reconhecer, sabia fazer as pessoas rirem. Mas tinha uma coisa que ele não sabia lidar: era a escuridão.<br /><br />Chegava a noite, apagavam-se as luzes, e ele se metia debaixo da cama com medo do que viria.<br /><br />_ É medo de monstro, dizia a mãe.<br /><br />_ É frescura de menino, dizia o pai.<br /><br />Nem medo nem frescura. O que o menino tinha era receio do novo. Era não saber se, quando acordasse, as coisas ainda estariam ali, do jeito que ele conhecia. E aí, se não estivessem, como suas piadas teriam graça? Como o seu sorriso iria brilhar?<br /><br />Mas então veio a tempestade. A tempestade que varreu a cidade. Era uma noite de junho, estranho chover em junho...<br /><br />De ponta a ponta, água que não acabava mais. Ele debaixo da cama, com medo do que viria.<br /><br />E aí veio a luz do raio seguida pelo barulho do trovão.<br /><br />E no meio da noite, no nada absoluto, ele viu o clarão. E foi então que ele entendeu que, mesmo no momento mais escuro, se ele soubesse olhar, haveria luz.<br /><br />As encruzilhadas estão aí, a novidade também. Não é preciso ter medo da novidade. Ela vem para o bem, ela vem para mostrar o caminho, ela vem para o progresso.<br /><br />Não há razão para não inovar. Não há razão para temer o escuro porque é nele que somos obrigados a tecer o futuro.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-34185817859758797152008-04-16T00:58:00.002-03:002008-04-16T01:01:12.708-03:00A Moça com Olhos de Deus<div style="margin: 1ex; font-family: trebuchet ms;"> <div> <p><span style=";font-size:100%;" >Até onde o céu enxergava, só era nuvem. </span></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Nuvem mesmo, no singular, porque era uma coisa só.<br /></span></p><p><span style=";font-size:100%;" >Como se não existisse céu além. A moça, pobre no jeito de vestir, simples no jeito de olhar, caminhava com o olho atento no ir e vir das luzes do relâmpago. Aquele trovejar forte, pra quem tem ouvido fraco era tortura, mas pra quem tem os ouvidos do coração é sinfonia de vida. </span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Na secura dos idos de junho, um céu como aquele era de dar arrepio. </span></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Arrepio mesmo, no singular, porque era uma coisa só.</span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Voltemos à moça então. Ela não tinha muito dinheiro, isso já está claro. E tinha sido exatamente por isso que ela estava ali, olhando pro céu, com os olhos carregados de lágrima.</span></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Lágrima mesmo, no singular, porque era uma coisa só.</span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Foram três dias de faxina pesada na casa da dona da esquina Barcelos, de gente fina. Trabalho duro de quem quer vencer, mas não estudou nem foi criada pra ganhar bem. Na vila em que ela morava, trabalhar duro era praxe, mas muita mulher fazia a opção fácil de se vender para pagar as contas. Até porque aquele amontoado de mulher pobre não tem o direito de guardar o que é delas por direito. Sobra de opção entregar o único bem que têm, o corpo.</span></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Corpo mesmo, no singular, porque era uma coisa só.</span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Então ela saiu da casa, com a perna doce de cansada, com os braços ardidos de trabalho, com o lombo doendo de curvada, e entrou no super mercado. Nem tinha reparado que a calça batida e a blusa rasgada lhe davam aquele ar de quem mora na rua. Foi entrar e tomar o puxão pelo braço. O segurança, senhor da truculência, casado com uma moça igual a ela, só que sem a blusa rasgada, correu pra tirá-la dali, antes que o chefe percebesse e lhe desse outra sentada.</span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Jogou a moça pra fora sem se fazer de rogado. Bateu uma pontinha de amargura, lembrou das outras cinco vezes em que fizera aquilo no mês, pensou na cara quase sempre igual de quem sofre com o desprezo, e sentiu, história por história, várias pontadas de arrependimento.</span></p> <p><span style=";font-size:100%;" ><br />E aí, definitivamente é no singular, porque arrependimento é uma coisona só.</span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Ela levantou então da calçada que caíra, olhou pro céu e viu aquela nuvem do arrepio, sentiu a lágrima escorrer no corpo, mas a lágrima virou, quase que do nada, de tristeza pra emoção. Ela não arrependeu de ser o que era.</span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Porque na vida daquela moça sem jeito, sem graça para o mundo e sem valor pra quem é rico, olhar para o céu com os olhos de Deus, sentir a chuva bater no rosto, com o vento soprando o ar da liberdade nos ouvidos, era um conjunto divino de realização. </span><br /></p> <p><span style=";font-size:100%;" >Realização mesmo, no singular, porque era uma coisa só...</span></p> </div> </div>Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-34271860719362250712007-07-03T15:19:00.000-03:002007-07-04T11:16:30.006-03:00Uma reflexão sobre o ensino no BrasilApesar de já ter discutido isso com muita gente, pretendo trazer o assunto educação à baila aqui nos escritos do Pitacos e Relatos. Não é surpresa ou novidade pra ninguém que o Brasil não só investe pouco como investe mal em educação. E, grande parte deste problema, reside na má distribuição de recursos entre ensino básico e ensino superior.<br /><br />É fácil avaliar a distorção. Um aluno do ensino público superior custa, no Brasil, cerca de 14 vezes mais caro que um aluno do ensino básico. O número já é forte o suficiente pra gente parar o texto por aqui, mas vamos lá.<br /><br />Recentemente alunos da USP, descontentes com uma série de medidas do governador de São Paulo José Serra, resolveram tomar de assalto a reitoria da Universidade. Na pauta de reivindicações estava, entre melhoria de moradia estudantil, redução de preço de bandejão e autonomia para a Universidade, o aumento do número de professores por cursos. De acordo com o Ministério da Educação, a USP tem um professor para cada 15,4 alunos. Parece piada? Vai ficar pior quando eu disser que Sorbonne, na França, tem 32 professores para cada aluno.<br /><br />O problema do ensino superior do Brasil não está puramente na falta de recursos, mas na péssima aplicação deles. É um problema de gestão, como grande parte das mazelas do setor público deste país. Os R$ 72 bilhões aplicados por ano em educação não são suficientes. Avalia-se que seriam necessários R$ 93 bilhões. Se pensarmos que 41% da verba aplicada em educação vai para o ensino superior, já é suficiente para pedirmos uma pausa geral para reflexões necessárias.<br />Na faculdade de medicina da UFMG, daqui de BH, estão sete ex-colegas meus na mesma turma. Todos fomos colegas em uma escola considerada de elite. Eu queria, de coração, saber quantos alunos de ensino público estão naquela sala. Eu sei que tem dois. Daqueles gênios que furam a dura realidade para vencerem na vida. De resto, gente de classe média, classe média alta e rica, ou muito rica. Ai eu me pergunto, ensino público gratuito porque? Se os que precisam de verdade da isenção não chegarão nem perto da aprovação?<br /><br />Pois lanço a minha campanha. O governo federal dá a chance aos reitores de universidades públicas se transformarem em gestores e melhorar o perfil das escolas. Reduzam prejuízos, tornem-se independentes financeiramente (como a UNB que construiu um hotel que é responsável por quase igualar os gastos com pessoal), procurem ex-alunos que possam fazer doações, e em cinco anos me apresentem resultados. Aquelas que não conseguirem serão privatizadas e passarão a ser geridas pela iniciativa privada. Com capital misto para que mantenham preços abaixo do mercado. Pronto, está feito. É justo, justíssimo. Digo isso porque eu pago a mensalidade daqueles meus colegas mais ricos ao pagar os impostos abusivos que me cobram todo mês. Como acionista da UFMG eu cobro resultados. Resultados ou não quero mais pagar essa joça.<br /><br />A Coréia fez, na década de 60, exatamente o que já deveríamos ter feito. Mudou o foco de investimento do ensino superior para o básico e manteve, com pulso firme, a política por décadas. Isso não é daquelas mágicas que se vê o resultado na hora. Serão precisos 30, 40 anos para que resultados comecem a ser enxergados, mas daí pra frente é só administrar os detalhes. O Brasil investe, proporcionalmente, em ensino público básico, menos que a Colômbia. E investe em ensino superior, também proporcionalmente, mais que a Espanha.<br /><br />É hora de percebermos todos que os nossos interesses não podem estar à frente, mas juntos aos dos outros. É isso ou amargar violência, doença, fome e pobreza para sempre. Vamos botar a mão na consciência, alunos de federais, é o nosso país, não o seu curso superior que está em jogo.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-48587798756821414722007-06-12T10:49:00.000-03:002007-06-12T10:56:18.865-03:00Gol de MãoTurma, mais um texto meu que publico na coluna Chute a Gol do ótimo e completíssimo site <a href="http://www.showdebola.com.br">www.showdebola.com.br</a><br /><br /><br />Até que ponto uma atitude dentro de campo pode ser considerada antiética, antidesportiva, digna de repulsa ou não? Lionel Messi, meia canhoto do Barcelona, fez um gol de mão. Tão incrivelmente parecido com o de seu conterrâneo e mestre das artes da bola Maradona quanto aquele outro que fizera contra o Getafe, driblando um time inteiro e fazendo o gol. Não que eu os esteja comparando em habilidade. Messi pode até ter feito um gol parecidíssimo com o de Maradona, mas estava jogando contra o Getafe, pelo espanhol, e não na copa do mundo contra a Inglaterra.<br /><br />Um gol de mão... ele é imoral? Acredito que o esporte, nos moldes em que foi concebido na Grécia antiga, que é o berço dos nossos padrões atléticos de hoje, não aceita este tipo de artifício. Como substituição à guerra, o esporte deveria ser, antes de razão para enriquecimento, consumismo e estrelato, arte em forma de competição.<br /><br />Por ter sido idealizado como competição em detrimento à guerra, acredito que o esporte deveria sim ter padrões éticos mais firmes. O leitor pode tentar argumentar que os mil e quinhentos anos que nos separam dessa ideologia que proponho fizeram do esporte algo diferente. Diferente sim, mas a sua raiz se mantém. Afinal, de que vale o futebol se não como exemplo de superação e beleza? De alternativa de vida a pessoas que nada teriam caso levassem uma vida normal? A maravilha do mundo da bola está nos exemplos, nos bons exemplos.<br /><br />Mas, por um acaso, as botinadas de zagueiros e as matadas de jogadas pelos volantões brucutus que faziam Telê morrer de raiva não são atitudes tão antidesportivas como um gol de mão? Na minha opinião a resposta é sim, em partes. Quando a falta é feita com o objetivo único de atingir o jogador, esquecendo-se em absoluto a bola, o valor é o mesmo. É o anti-futebol, ponto final. Atitude que deveria ser punida de maneira drástica se esperamos que nossos netos continuem praticando tal esporte. Para o futebol, a moralização de seus praticantes e do mundo que gira a sua volta é questão de sobrevivência.<br /><br />Messi não nos deu um bom exemplo. Repetiu uma atitude fútil de Maradona, que tantos maus legados deixou e ainda deixa. A malandragem não substitui a hombridade. E enquanto o jogador de futebol não perceber isso, continuaremos rumo ao fundo do poço moral que há tantos anos ronda o esporte. É essa a mensagem para a posteridade que deixaremos? Futebol e seus praticantes, chamados profissionais que, em campo, refletem as atitudes dos dirigentes que reinam fora dele.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-20222320260641241382007-05-02T10:29:00.000-03:002007-05-02T10:30:43.461-03:00Um clássico com a cara da polêmicaMais uma do <a href="http://www.showdebola.com.br">www.showdebola.com.br</a> turma... abraços<br /><br /><br />Clássico é clássico, isso não se discute. Quando rivalidades seculares entram em campo, lógica, padrão, técnica ou previsões tornam-se totalmente volúveis. No último domingo, dia 29 de abril, os mineiros tiveram a chance de assistir a um desses jogos sem padrão, que beiram o inacreditável.<br /><br />Em campo, Atlético e Cruzeiro voltavam a disputar uma final de campeonato mineiro depois de quatro anos do Galo longe das partidas decisivas. Dois elencos jovens, sendo que o do Cruzeiro já com alguns jogadores mais tarimbados mesclado com algumas promessas. O do Galo é praticamente o mesmo elenco campeão da série B, formado basicamente por jogadores oriundos das categorias de base e reforçado por Coelho, lateral direito escorraçado do Corinthians por Emerson Leão.<br /><br />No primeiro tempo já era possível enxergar o que viria a acontecer. Paulo Autuori montou, imbecilmente, diga-se de passagem, um time ultra ofensivo que não agredia ninguém. Dois segundos volantes saindo pro jogo e dois laterais apoiando ao mesmo tempo. O trabalho de marcação sobrava para os zagueiros. Era óbvio que, cedo ou tarde, numa fugida dos rápidos Danilinho ou Eder Luis, alguém acabaria expulso ou sairia um gol. De princípio tivemos o expulso. Gladstone, depois de fazer uma falta em que era o último homem antes do goleiro Fábio, levou o vermelho, aos 29 minutos do primeiro tempo. Autuori colocou o juvenil Simões no lugar do atacante Nenê para compor a zaga.<br /><br />Esperei que Autuori fosse raciocinar direito e que voltaria para o segundo tempo com um zagueiro a mais ou um volante a mais para segurar o resultado, já que jogava por dois empates. Caso optasse por manter o esquema de jogo, imaginei que tiraria Geovani, totalmente morto em campo. Pois o homem me tirou o Felipe Gabriel, que era o único que se movimentava.<br /><br />O segundo tempo foi a confirmação de um jogo contra um time ingênuo que tem um treinador ou igualmente ingênuo ou efetivamente ruim. Começou com um gol relâmpago do Atlético. Só ai Autuori finalmente colocou em campo os jogadores que deveriam ter começado jogando. O jovem atacante Guilherme e o meia Maicossuel. Mas ai já era tarde demais. Teria sido mais produtivo ter colocado em campo dezoito volantes ou vinte e sete zagueiros, já que o 1x0 não era tão mal.<br /><br />Mas o Cruzeiro não mudou o jeito de jogar. E Levir Culpi agradeceu. Danilinho deu um chapéu em Fábio e marcou o segundo, depois de passe precioso de Tchô por cima da zaga celeste. O terceiro saiu de um pênalti meio esquisito e o quarto coroou um dos clássicos mais estranhos que já vi na minha vida. Na saída de bola, o ótimo Araújo deu um passe errado para trás quando o esperto Vanderlei tomou a bola e bateu para o gol, fazendo o quarto. O gol não teria nada especial não fosse por uma situação inusitada. O goleiro Fábio andava, de costas para o jogo, em direção à bola do terceiro gol, ainda no fundo das redes.<br /><br />Quatro a zero. E um gol com o goleiro de costas. Parece piada. Mas eu vi, foi real.<br /><br />O Atlético não só tirou a vantagem do Cruzeiro como praticamente selou o título mineiro de 2007. No Cruzeiro os irmãos Perrela querem a cabeça de tudo e todos. Acusaram os juízes de comemorarem a vitória do Galo em uma pizzaria. E o leitor precisa concordar com eles, não? Afinal de contas, comer pizza domingo à noite é coisa de gente desonesta. <br /><br />Hoje, quarta feira pós feriado, acabo de receber a notícia que Fábio se machucou no segundo gol do Atlético. A assessoria do Cruzeiro anunciou que ele teve uma lesão no ligamento cruzado posterior do joelho e que ficará de quatro a seis meses parado apesar de não precisar de cirurgia. Só posso gargalhar.<br /><br />Gargalhar porque nunca vi ninguém com o ligamento cruzado lesionado jogar por quinze minutos sem mancar nenhuma vez. Gargalhar porque até no final de semana ninguém tinha ouvido nada de contusão. Só pode ser piada.<br /><br />Quer afastar o cara? Afasta... Mas fala porque está fazendo. Não dá pra ficar inventando desculpas esdrúxulas pra resguardar o atleta. Ou então seja mais convincente. Manda o cara fingir em algum treino. Mas desse jeito não.<br /><br />Fica a lição para todas as pessoas que acompanham futebol. Os times competitivos têm ido mais longe que os times com ótimo desempenho individual. Vale aprender com eles lições sobre respeito, obediência e vontade. Pois não se surpreendam se o São Caetano for campão paulista em cima do todo poderoso Santos. Vale lembrar que só o salário do Luxemburgo pagaria toda a folha do Atlético. Definitivamente dinheiro não ganha títulos. Ajuda, mas não resolve.<br /><br />Alexandre B. Abramo, jornalista, assessor de jogador de futebol, achou a cena mais engraçada dos últimos anos o goleiro cruzeirense com duas bolas de gols nas mãos.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-65708019144050918892007-04-26T15:54:00.000-03:002007-04-26T15:59:16.402-03:00Operação HurricaneNão meu caro leitor, não vou escrever sobre a queda das máscaras de parte do judiciário carioca. Não vou falar dos milhões de reais e dólares em dinheiro e bens descobertos, fruto de mesada de bicheiros e donos de bingos para que desembargadores vendessem liminares favoráveis ao jogo. Também não vou falar dos advogados, empresários e políticos corruptos que foram complacentes. Não há análise, há tristeza misturada à revolta. Mas não é disso que vou falar. Da Operação Hurricane eu trago à baila o seguinte foco: Como diabos se escolhem os nomes das operações realizadas pela Polícia Federal?<br /><br />Será que eles avaliam como vai ser e depois dão o nome? Tipo Operação Anaconda? Ou será que eles escolhem o nome apontando o dicionário? Ou então será que eles mandam o chefe responder e pronto?<br /><br />Eu imagino que as operações da PF são nomeadas em uma mesa de buteco. Happy hour, a turma reunida. Eis que alguém pergunta:<br /><br />Ferreira: _ E aí Nogueira, como vai chamar aquela operação que a gente vai desmantelar os figurões?<br /><br />Nogueira: _ Sei lá, tô de saco cheio de pensar nisso, passo pro Marques<br /><br />Ferreira: _ Responsabilidade é sua Marques<br /><br />Marques: _ Tudo bem, tudo bem... O que vocês acham de operação Robin Hood?<br /><br />Ferreira: _ Que idéia infeliz, Marques, a gente já teve três operações com esse nome nos últimos quatro anos, além de que fica parecendo que a gente vai roubar o dinheiro e distribuir no complexo do Alemão, aliás, falando em Alemão e o Big Bro...<br /><br />Nogueira: _ Cala essa boca Ferreira, nós estamos decidindo o nome da operação mais importante dos últimos vinte anos...<br /><br />Ferreira: _ Mas e aquela outra do...<br /><br />Nogueira e Marques: _ Cala a boca Ferreira.<br /><br />Ferreira: _ Tá bom<br /><br />Nogueira: _ Bom, a gente podia chamar de operação Desmame, hahahaha<br /><br />Marques: _ Hahahaha<br /><br />Ferreira: _ Hahahaha, boa Nogueira...<br /><br />Nogueira: _ Agora sério, podia ser um nome tipo Katrina,... Operação Katrina, por causa do furacão, lembram?<br /><br />Marques: _ Gostei do Katrina, a gente ta demolindo geral mesmo...<br /><br />Ferreira: _ Porque a gente não chama de operação furacão?<br /><br />Marques: _ Faz sentido, mas já num teve uma dessas?<br /><br />Nogueira: _ Era operação arrastão.<br /><br />Marques: _ Teve aquela dos deputados, era Furacão, mas num terminou nem em ventinho.. Hahaha<br /><br />Ferrreira: _ Hahahahaha<br /><br />Nogueira: _ Hahahahaha<br /><br />Marques: _ Tive uma idéia, como fala furacão em inglês?<br /><br />Ferreira: _ Acho que é alguma coisa tipo big wind, lembra da operação wind?<br /><br />Nogueira e Marques: _ Cala a Boca Ferreira<br /><br />Ferreira: _ Tá bom!<br /><br />Marques: _ Não, não... É tipo Wind of destruction<br /><br />Nogueira: _ Isso não é o nome de um filme do Chuck Norris?<br /><br />Ferreira: _ Hahahahaha<br /><br />Marques: _ Hahahahaha<br /><br />Nogueira: _ Hurricane<br /><br />Marques: _ O que?<br /><br />Nogueira: _ Furacão em inglês, é Hurricane<br /><br />Marques: _ Operação Hurricane,.... O chefe vai adorar!<br /><br />Nogueira: _ Vai mesmo, vai ficar sonoro na televisão...<br /><br />Ferreira: _ Ainda preferia Robin Hood<br /><br />Nogueira e Marques: _ Cala a boca FerreiraAlexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37653834.post-28903812386814822062007-03-27T18:31:00.000-03:002007-03-28T08:38:00.640-03:00Os mil do BaixinhoPessoal, mais uma da minha coluna "Chute a Gol", que escrevo com peridiocidade indefinida para o site <a href="http://www.showdebola.com.br">www.showdebola.com.br</a><br />Quem quiser ler mais sobre futebol é só acessar o link colunas e ir em chute a gol que tem todos os meus textos lá... abraços<br /><br /><br /><br />Eu nunca escrevi nada sobre Romário. Não me acho à altura dele, sem trocadilhos. Mas como deixar passar toda a polêmica e o alvoroço no mundo da bola em função dos seus mil gols? Como abandonar assunto tão fértil? Será que sou capaz de abandonar o desejo de falar ao digníssimo leitor em razão de minha ideologia? Não sou. O Romário merece mais que eu, mas vou escrever assim mesmo.<br /><br />É bobagem dizer que ele foi o grande do seu tempo, o rei da grande área, o gênio do chute de bico. Ele foi isso tudo e mais, muito mais. Carregou o Barcelona nas costas, foi campeão do mundo quase sozinho, voltou ao Brasil para meter gol jogando por todos os grandes do Rio (menos o Botafogo), criou polêmica ao ser cortado na Copa de 98, chorou lágrimas suspeitas para ser convocado para o mundial de 2002, pintou o Zagallo na latrina enquanto Zico segurava o papel higiênico, foi para os Estados Unidos – deitou e rolou, foi para a Austrália – nem deitou nem rolou, ameaçou jogar pelo Tupi de Juiz de Fora – foi impedido pela FIFA.<br /><br />Então o baixinho declarou a luta incessante pelo milésimo gol. Gol que é contestado pelas mídias mais sérias. Ele contabiliza alguns em amistosos sem juiz, outros como infantil e juvenil... E chegou ao número 999 no último fim de semana, jogando contra o Flamengo.<br /><br />Tudo bem que ele exagera na contabilidade de tentos. Tudo bem que ele já não seja mais o Romário de outrora... mas, cá ente nós, nunca vi um jogador de 41 anos fazer gols como ele. Contra o Madureira foram três, um de cabeça, inclusive. Existem pessoas que dizem que o Romário só marca gols fáceis hoje em dia. Amigão, não existe gol fácil. O futebol profissional não deixa espaço para esse tipo de coisa. Se fosse assim, pelo menos os gols fáceis o Rômulo do Cruzeiro (que eu considero bom jogador) teria feito. Ou o Amoroso não passaria tanto tempo em branco pelo Corinthians. O Romário é um gênio, e precisa ser respeitado como tal.<br /><br />A Placar deste mês saiu com uma informação inédita. Se forem contados apenas jogos oficiais, Romário está a exatos três gols de passar Pelé em números absolutos. O Baixinho merece o recorde.<br /><br />Longe de mim defender o comportamento de Romário fora de campo, ou valorizar sua marra e o exemplo que ele é, não só para o profissionalismo no futebol como para os jovens de forma geral, mas é hora do Brasil se dobrar e assumir: Romário marcou quase três vezes mais gols que Maradona, deu mais chapéus em dois anos que o Zidane na carreira inteira, marcou mais gols de bico que o Adriano de qualquer jeito e nunca precisou de correr muito pra isso. Ele foi único. Porque decidiu chegar até os 41 jogando, e por isso contestado, não nos cabe avaliar os últimos seis anos de sua carreira e generalizar para todo o resto. É hora de assumirmos os feitos de um dos maiores da história, possivelmente o maior que eu vi jogar. Romário é grande, baixinho, eu sei, ainda assim, mais que grande, Romário foi gigante.<br /><br />Alexandre Abramo, jornalista, assessor de imprensa de jogador de futebol e se dobra à genialidade do carioca, marrento e baixinho mais bem sucedido do Brasil.Alexandre Balaguer Abramohttp://www.blogger.com/profile/01676419989096823833noreply@blogger.com2